Tuesday, May 29, 2007

Apenas Mais Um Dia Infeliz





Ela nunca havia sido popular. E aparentemente nunca se importou com isso. A.p.a.r.e.n.t.e.m.e.n.t.e. Não sabia dançar, sempre pisava no pé de seu par e não possuía muita intimidade com números. Cada uma de suas quatro irmãs parecia ter nascido com um dom fora do comum, menos ela. Pensava muito na vida. Como poderia ser diferente ou onde arrumaria entusiasmo pra acordar no outro dia. Pensava e pensava enquanto viajava apertada em um ônibus em direção ao trabalho. Não poderia ser considerada feia, mas também não se achava uma garota bonita. Nunca havia vivido um grande amor. Passou a adolescência vivendo como coadjuvante nas histórias de amor das amigas. As poucas que realmente fez foi perdendo o contato durante os anos. Tinha uma que ainda conversava bastante. Por e-mail.
Fazia parte daquele pequeno grupo de pessoas que ficavam em dúvida se realmente queriam acordar no outro dia. Pequeno grupo? Naquele ônibus lotado facilmente encontraria muitos como ela. Ela se sentia apenas mais um número vestindo casaco e calças jeans. Até toques de telefone já estavam irritando. Sua diversão era observar o cotidiano de pessoas enquanto ainda não chegavam a seu destino se questionando que conseguiria ser feliz apenas por ver outro alguém feliz. Seus personagens favoritos era um casal de jovens visualmente apaixonados, mas estupidamente tímidos. A maneira com que eles se olhavam e sorriam de certa forma melhorava seu dia. E sua diversão era a espera ansiosa do dia que ele se declarasse. Afinal, todos os dias, pegando o mesmo ônibus, ele deveria tomar alguma atitude.
Ficou inquieta o primeiro dia que eles não mais pegaram o ônibus. Inquieta? Era mesmo essa a palavra? Tinha que arrumar um motivo pra o seu desanimo. Nunca ficou sabendo do final desse romance. Como naqueles filmes de sessão da tarde que ninguém assistiu pra te contar o final, restando a você apenas inventá-lo.
E diferente de qualquer clichê de filme ou livros de sucessos de vendas, no final dessa história, ela não encontrou um grande amor, nem foi contratada para um grande emprego. Ela apenas fechou seu casaco, acendeu um cigarro e desceu do ônibus. (Vinícius D'Ávila)
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