Era pra ela estar em perfeito estado.
Se não fosse também pelas tantas quedas sofridas.
Mas também de quem havia sido a idéia de fazê-la de vidro?
A gente cai no chão e se espalha em mil pedaços meu amor, mas depois a gente junta e cola tudo.

O que mais a incomodava era o fato de que cada queda poderia machucar alguém.
Sempre haveria de ter uma lasquinha perdida pronta para penetrar uma pele.
Talvez seja isso que a esteja afastando de tudo e de todos. Aquele espirito protetor.
Mal sabia ela que aquilo não era proteção. Era isolamento.

Ele nem se importava pelo detalhe dela ser de vidro. A amava inclusive por isso.
Suas outras qualidades se destacavam perto da sua aparente fragilidade.
Ele ficava maravilhado com sua transparência e sabia que nunca mais conheceria alguém assim.

Pra que ficar apontando tantos defeitos se aquilo tudo trazia tantas qualidades?
Ele não era o criador, mas reconhecia uma bela criação.
Ele não se importava muito com detalhes.
Pois apesar de serem frutos da mesma matéria prima, talvez ele fosse pior.
Ele era de pedra.
(Vinícius D'Ávila)