Sunday, September 30, 2007

Confuso Gosto Amargo



Complexo.
Talvez é isso que eu realmente seja.
Complexo.
Minhas idéias confusas que eu achava que eram simples se transformavam apenas em um conjunto de palavras que quase ninguém entendia. A vida talvez realmente seja a tal quadrilha que o Drumond já falava. E assim vamos amando aquelas que amam aqueles que nunca irão amar alguém. E quando achamos que encontramos a pessoa certa, descobrimos que o perfeito nunca existiu e que a felicidade é algo inconstante. Talvez o fabricante de sonhos também tenha prazer em destruí-los. Ou então fosse apenas mais um covarde no meio de tantos outros.
Pois por aqui as pessoas não se apaixonam no trem, nem se esbarram em corredores. Acho que por aqui as pessoas não estão nem se apaixonando. Tudo parece tão entediante e chato que ao final do dia me faz sentir tão cansado ao dormi. E mais cansado ainda ao acordar. Talvez eu fosse apenas mais um de meus personagens, sem nome e sem rosto. E este gosto amargo que foi surgindo com o tempo já esteja preso em meu paladar. No começo foi um pouco mais doce. Como aquele único beijo na chuva, que no começo deixou tanta saudade, mas hoje é até melhor que fique nas lembranças. Acho que a tal felicidade e o tal amor nem existam de verdade. Ou então temos concepções diferentes para palavras idênticas.
(Vinícius D'Ávila)
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Sunday, September 16, 2007

Um copo de veneno, por favor!





21:00.
Era ela. No lugar certo e na hora certa. Conferiu no livro. “Cinderela (...) bla bla bla (...) depois de um encanto (...) bla bla bla (...) meia noite (...) príncipe.”
- Mas, cadê ele?
Ela era a Cinderela. A fada já havia enchido a cabeça dela de conselhos chatos e lições de moral. E ela já estava com os sapatos! Aqueles sapatos! Precisavam mesmo serem feitos de cristal? Apertavam e faziam seus pés suarem. O que ela não entendia, além de como a fada voava, era por que o feitiço durava só até meia noite. Afinal, todas as outras princesas eram felizes para sempre e e a beleza dela tinha tempo determinado. Boba. Deveria ter lido o final. Mas bem que a fada, que se achava a dona da verdade e talvez realmente fosse, alertava.
- Cuidado! Não vá se apaixonar muito depressa. Hoje em dia os príncipes estão cada vez mais complicados.
22:00.
E estava lá ela. No dia e horário marcado. Com uma carruagem em forma de abóbora, tirando assim todo clima de romance.
- Não poderia ser uma maça?
- A maça já é da Branca. E você não iria querer. Ela está envenenada.
Seu vestido estava perfeito, parecia ter sido feito pra ela. E foi. Seus cabelos, cheiro e sorriso pareciam ter sido perfeitamente combinados por uma formula mágica. “Ele deve estar se arrumando. Ele não tem uma fada.” Resolveu cantar para se acalmar.
23:00
E seus pés começavam a suar, enquanto ela reclamava por ser tão ansiosa. Segurava com a força que podia aquelas lagrimas que insistiam em sair. Ela era orgulhosa e não iria se abalar por pouco. Mas ela já tinha planejado tudo. O que diria e o que faria. Planejou passo a passo em seu intimo. Depois de tantos conselhos havia se conformado com a ideia de ser dele apenas por uma noite. E ia faze-la especial. Mas...
23:40
Cadê ele? Ela lentamente retirou seus estúpidos sapatos de cristal. Estúpidos! Porque mesmo que chegasse, não daria tempo mais de nada. Estúpidos! Nunca gostou tanto de uma palavra. Arremessou tão forte contra a parede que agora nem era mais possível contar os cacos. E apertou com tanta força aqueles cacos que tornaram suas mãos vermelhas. Suas lagrimas, agora incontroláveis, borravam sua maquiagem e ela gritava e gritava rasgando aquele vestido que lhe fazia parecer uma idiota. A chuva que poderia estar tornando tudo tão belo, estava tornando a cena trágica. Bagunçou seu penteado e parou alguns segundos ao notar. Nem precisou ser meia-noite. Ela já estava um lixo. Já era um lixo. Estúpido! Idiota! Se questionava a todo instante: "Será que possível alguém esquecer antes mesmo de conhecer?" Efêmero! Entendia ela agora, não era o seu feitiço que durava pouco, era o amor nos dias atuais. Não precisaria daquilo depois. Na verdade, nunca nem precisou. E como numa tentativa frustada de salvar o fim da sua história, ainda ali pensou, se a fada não havia se confundido e a maça não fosse realmente para ela. (Vinícius D'Ávila)
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Friday, September 14, 2007

Estranha infelicidade





Era para estar se divertindo na festa, mas se perdeu intencionalmente dos amigos e começou a refletir.
Havia acordado com uma sensação estranha. Um gosto amargo na boca. Mas de certa forma nem estava o incomodando tanto. Estava se acostumando. Era uma inquietação, agonia, infelicidade. Não sei se existe uma palavra que descrevesse aquela sensação. A cara de tédio era realmente perceptível e o rosto marcado entregava que havia chorado durante a noite. De onde vinha aquela infelicidade?
Pela pessoa mais sonhadora que ele conheceu que também riu de seus sonhos
Pelos beijos secos e abraços vazios
Pelos planos desfeitos
Por aquela tosse que não parava nunca
Porque talvez ele também fosse corrosivo
Porque aquilo que tanto lhe agradava, hoje em dia era insuportável
Porque ele sabia que a dor era intensa, mas mesmo assim ele deixou que doesse
Porque ele queria que chovesse para sair gritando

Talvez ele queria que cada um sentisse um pouco daquilo que ele tanto sentia
Talvez por estar também enlouquecendo

Sentou-se perto da fogueira, havia se perdido dos amigos, assim como a graça daquela festa. Ele desejou estar dentro dela.
Ela chegou do nada e ele ficou por alguns segundos tentando descobrir de onde ela havia saído e como num passe de mágica sorriu pra ele. Aquela menina que há tempos, havia visto de longe, mas nunca havia trocado conversa, surgiu. No fundo, ele sabia que era porque havia desejado intensamente. A tal da lei da atração. Tudo que desejar intensamente, acabava acontecendo. E a presença dela fez com cessasse a busca de entender porque estava triste. Ingênuo, e aquilo que revelaram como, ele já sabia a muito tempo. (Vinícius D'Ávila)






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Tuesday, September 04, 2007

Me acorde quando chegar...



“Era vermelho. Vermelho vivo.” Talvez foram essas as palavras que lhe serviram de inspiração.
Diz a lenda que tudo começou por serem duas rainhas. Outros dizem que era por serem dois reis.
Era a lenda mais triste entre todas as lendas. Eram dois reis, pois se tratava de irmãos gêmeos. E a inveja entre as duas rainhas foi inevitável. Mal sabiam elas que poderia brilhar mais de uma estrela num mesmo céu. Aquele brilho não era o bastante.
A Generosa engravidou.
A Invejosa (me desculpem pela aparente redundância) invejou.
E foi uma maldição em cima da pequena sobrinha que viria. Todos que a princesa se apaixonasse, quase instantaneamente morreria. Poderia haver maldição mais cruel? A pequena princesa cresceu sendo obrigada a afastar qualquer pessoa que tentasse se aproximar. Ela reunia toda beleza e tristeza num só corpo. Ela sentia inveja de pequenas coisas. Dos beijos e momentos banais que parar outros poderiam ser comum, para ela eram sonhos. Por que certas pessoas incomodavam tanto com os sentimentos dela? Ela não queria ter nascido assim. Quando ela começava a sentir seu coração bater ou seu sangue ferver, ela fechava os olhos e se imaginava numa banheira fria. Estúpida. Não poderia reprimir aquilo por tanto tempo. E foram os olhos que a hipnotizaram. Quando ela menos percebeu estava totalmente seduzida. Pensava, pensava e pensava, não entendia o que estava acontecendo, afinal, nunca havia se sentido assim. O vermelho vivo foi surgindo lentamente. A certeza de que era amor veio quando não suportou a idéia de vê-lo partir. Por que ele a beijou? Por que ela não o segurou? O vermelho já manchava suas roupas. Ela precisava ir no lugar dele. Afinal, ele havia lhe dado seus únicos segundos de felicidade naquele beijo. Pela ultima vez olhou para as paredes, olhou suas unhas, lembrou do beijo. Lentamente foi fechando os olhos enquanto lagrimas que a perseguiram por toda vida, também a acompanhavam agora. Ela até parecia que havia dormido, mas não era só isso. E partiu deixando um reino de duas rainhas. Uma que viveu de tristeza. Uma que viveu de remorso pelas mentiras que havia contado. Um quase príncipe que viveu de saudade. E lembranças de uma jovem, que foi de tudo (de princesa a guerreira), foi de tudo, menos feliz. (Vinícius D'Ávila)
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