Monday, November 19, 2007

Cidade Fantasma


Aquela cidade estava pequena demais para os sonhos dele. Pois, apesar dali reunir todos os que ele amava, era preciso ir embora. O que lhe fazia querer ficar, era o que lhe causava querer partir. 
Não suportava a idéia de que em qualquer lugar que fosse teria alguém que o conhecesse.
Não suportaria morar em um lugar de desconhecidos.
Contraditório.
Talvez o objetivo fosse fazer com que todos sentissem saudades. Então partiu. Então voltou.
O tempo que ele passou fora é indeterminado, mas digamos que foi tempo suficiente.
As coisas não estavam mais no seus lugares e era como se as pessoas não o reconhecesse. Não porque haviam esquecido seu nome, mas os cumprimentos não eram da mesma maneira. As paredes haviam sido pintadas de novas cores e já haviam perdido o cheiro. Há uma linha muito fina que separa saudade de esquecimento. E aquele tempo foi suficiente pra isso.
Os abraços não possuíam a mesma força e nem os sorrisos a mesma sinceridade. Ele esperou por horas na mesa do café, mas seus antigos amigos simplesmente não iam mais ali. Partiu se achando grande demais para viver alí, voltou se sentindo pequeno.
Foi então, que já em casa, ajeitando as coisas deixadas no velho guarda roupa, concluiu.
Antes eram maiores que ele, mas agora todos os seus sonhos cabiam dentro de um caixinha.
(Vinícius D'ávila)
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Wednesday, November 14, 2007

Colecionador de Histórias Tristes




É que naquele ano fez mais calor e por mais tempo. É que naquele ano ou o sol parecia incomodar mais ou havia se esquecido como o calor poderia simplesmente ser insuportável. A chuva que já deveria ter chegado e não chegou dava a sensação que seria verão a vida inteira.
Não era só o clima que estava diferente. Ele também estava mais paciente de uma maneira que esperaria passar todo aquele verão sem reclamar do sol. E não era por falta de problemas. E o que fazer com tantos problemas a serem resolvidos? Uma tarde de piscina poderia até parecer loucura, mas louco era o menor problema que ele poderia vir a ter.
Cada mergulho o fazia lembrar de mais um amor que não deu certo. Da esperança que depositou em todos eles. Dos desabafos que insistia em escrever. Da maneira como se tornava repetitivo. Se as pessoas compreendessem que ele matou todas as princesas em contos que escrevia porque não conhecia a sensação de um final feliz, entenderiam que um final diferente não era uma opção.
Ao menos hoje tentaria um final feliz sobre a história de um menino apaixonado por piscinas. Só hoje as princesas teriam paz.
Um último mergulho fez despertar um desejo. Desejo que o fôlego acabasse antes da vontade de sair da piscina. Era impossível se afogar, mas impossível mesmo era não pensar no último amor. E de fato, se fossem olhar de perto, veria que não era paciência, era acomodação.
Talvez nem estivesse tão calor assim, era só uma desculpa pra se sentir mais atraído pela água. Talvez suas histórias só eram infelizes, porque ele permitia que assim fosse. Foi um dos conselhos que ouviu. Amor que não nasce não dói e não se ouve um não quando não se pergunta nada. Mesmo que suas atitudes anulassem as chances de um sim, decidiu cumprir a promessa de seu primeiro final feliz. Não era covardia, era amor. E quando chegasse a hora do beijo, seria melhor dar um abraço, pois somente sendo amigos eternizaría aquele sentimento.
(Vinícius D'Ávila)


Obs.: Só precisava compartilhar com vocês que a pessoa que me inspirou esse texto foi com que namorei por 2 anos, meses depois de ter a certeza que nunca seriamos nada um para o outro. O destino age por nós.
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Saturday, November 10, 2007

A Dançarina e O Poeta



Eu nunca soube como havia terminado.
Assim como eu nunca soube como havia começado.
Ao abrir o livro ficava a dúvida: Se a última página foi com o final da ligação ou acabou tinta para continuar a escrever.
Terminou tudo tão rápido que as dividas nunca foram pagas.
A dança que ela nunca terminou.
Os versos que eu nunca escrevi.
Ela saiu da minha vida enquanto eu ainda escolhia a nossa música e os sons de violino me impediram que eu escutasse os passos.
Eu queria escrever versos sobre ela, mas só conseguia escrever da saudade sentida dela.
Quando enfim descobri que a promessa feita a mim não foi exclusividade, resolvi transformar a dança em versos.
Assim ao menos o fim da nossa história não se resumiria a promessas.
Os passos num ritmo que só nós conhecíamos. As letras dançando de uma maneria que eu imaginava que um dia iriamos fazer, sem ninguém para atrapalhar avisando que a festa acabou.
Guardando o beijo esperado para o fim da dança, acompanhando os seus pés, guiando com minhas mãos.
(Vinícius D'Ávila)
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Tuesday, November 06, 2007

Quebraram Meu Braço Direito




Quebraram meu braço direito
De uma forma tão cruel que me deixou com uma sensação de impotência.
Quebraram meu braço direito e era com ele que eu escrevia tão bem. Nunca tive vocação para canhoto.
Amanheci com sensação de folha seca. Daquelas que qualquer vetinho bobo poderia derrubar.
Nunca mais serei o mesmo, pois só ele conseguia agir na mesma velocidade do meu pensamento. Quebraram meu braço direito.
Como se eu fosse uma estrela do mar, ele se desprendeu e regenerou um novo ser inteiro. E eu sofro a perda de um braço e meu braço não sofre a perda de um corpo inteiro.
Quebraram meu braço direito.
E ele mesmo foi responsável pela perda, e sem ter como discordar, só eu sinto a dor.
Mal sabem aqueles que me elogiam, que eu só consegui merece-los por ter meu braço direito. E o esquerdo mesmo com tanto tempo perto não aprendeu a agir igual.
Quebram meu braço direito.
E por mais que eu tenha outro braço e pernas, nada se comparava ao que perdi.
E por mais que as pessoas se enfureçam de tanto eu repetir, quebram meu braço direito, essas reclamações ainda são poucas. Pois, por mais que o esquerdo aprenda a escrever e os pés aprendam a pintar, nunca mais serei o mesmo sem meu braço direito. (Vinícius D'Ávila)
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Thursday, November 01, 2007

Entre Risos e Silêncio




A menina que há anos eu não via, dos cabelos vermelhos e de anéis nos dedos, que compartilhava comigo  quedas da cadeira e lanches nos intervalos de aula, me abraçou tão forte que deixou seu perfume em mim. Queria noticias do passado e das pessoas que ficaram por lá. No passado. Dos antigos colegas até os mais  íntimos que um dia já tivemos em comum. E depois de falarmos sobre quase todos, foi o final do menino tímido que a surpreendeu. Ele havia sumido. Desaparecido. Sem sequestros e sem partir. Isso mesmo. Foi ficando transparente e cada vez menos visível.
Ele era diferente dos outros daquela sala. E naquela idade não era perdoável ser diferente, por mais que se  olhássemos de perto, todos nós fossemos. Fazendo assim da sua timidez, uma agonia ao enfrentar em silêncio todos aqueles risos. E foi assim que eu descobri que nem todo riso era bom. E eu com toda mistura de egoísmo e incompletos 14 anos de imaturidade, também me mantive em silêncio. E foi novamente assim que descobri que nem todo silêncio era igual. Se o meu era de indiferença, o dele era de tristeza. Minha consciência já se encarregou de me culpar no questionamento incessante se eu realmente não poderia ter feito nada. Assistindo aquele julgamento por ele ser apenas diferente. Definitivamente ele não era nem parecido com os outros da nossa sala. Graças a Deus. E nunca seria.
Eu me permitia aproximar enquanto ninguém olhava, mas em público eu mantinha uma certa distância. E foi assim que ele me mostrou todos os planetas bem de perto.
Ele não desapareceu subitamente. Foi ficando transparente aos poucos. E o mais estranho do que ir se tornando translucido, é o fato de ninguém ter perceber. Ou os poucos que viam fingiam, assim como eu, não notar nada. E se eu soubesse que aquela vez seria a ultima vez que eu o visse, não teria o cumprimentado apenas com os olhos. Teria dado um abraço e agradecido por ter me mostrado os planetas, mesmo que o patio inteiro parasse todas as atividades só para olhar para gente.

Até que um dia ele sumiu completamente.

E todos se comportavam como se ele nunca tivesse estado ali. Como se não houvesse uma cadeira vazia na sala. Como se a chamada sempre saltasse o número 23. É claro que para alguns ele nunca realmente esteve e confesso que eu também demorei a perceber. E quando realmente entendi que nunca mais o veria, faltou-me o ar e as palavras. Apesar de triste é a verdade, aquele que deveria viver para sempre, desapareceu no tempo. O mundo de fato não é todo cruel, mas ele não teve tempo para aprender isso.

E minha amiga dos cabelos vermelhos ficou atônita. Chocada com tudo que eu havia lhe contado ou com remorso por também não ter percebido. Visivelmente ficou sem ar e sem palavras e talvez seja por isso que não disse nada. Em luto pelas coisas que poderiam ter sido feitas, mas não foram. Por não poder naquele instante desaparecer. E por no fim dizer o que  demorei criar coragem para dizer. Nunca fomos iguais. Nem nunca seriamos. Ainda bem. (Vinícius D'Ávila)
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