Thursday, February 28, 2008

10 Anos Depois




Depois de 10 anos de casado, ele acordou e já não amava mais. Amou de uma forma que poucos neste mundo já amaram. Achava que amor acabasse aos poucos, mas no caso dele foi como se houvesse sido roubado. Não era suficientemente corajoso para dizer isso, mas demonstrava sutilmente.
Assim foi pior. Ela percebeu, mas preferiu não acreditar. Ele não sorria mais ao acordar e já não a beijava antes de sair. Não cantarolava mais ao chuveiro. Ela tentou fazer com que o amor dela fosse suficiente pelos dois. Mas somento o amor dela não era o bastante.
O amor repentinamente nasceu e igualmente morreu.
Ele realmente não possuía vocação para herói, mas aquela escolha foi vergonhasamente covarde. Continuou casado. Tornou-se infeliz. Ela também.
E ela descobriu da pior forma uma das mais tristes verdades.
Pior do que estar com quem você não ama, é estar com quem não ama você.

(Vinícius D'Ávila)
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Monday, February 18, 2008

Vaidade



Ela era muito vaidosa. E o tempo estava trazendo o que ela tanto temia. Ali na frente do espelho eram mais visíveis os defeitos. Ela arrumava e penteava o cabelo, atrás de uma beleza que não mais voltaria. A beleza agora era diferente. Quanto mais bela e vaidosa, maior será o medo de envelhecer. As mãos já não tão lisas tentavam inutilmente esconder os sinais do rosto. Por algumas vezes interrompia seu ritual para conferir o final dos personagens na novela. A TV ligada ainda trazia a vida aquela casa. Procurava cravos para que pudesse espremer. Uma das únicas coisas que o tempo não levou junto com sua juventude.
Igualmente vaidosa ela era bela. Tão bela que fazia nascer vários amores. Amores que eram esquecidos na mesma velocidade de seus sonhos. Todas as noites sonhava sonhos excêntricos, mas ao acordar os esquecia antes que pudesse contar a alguém.
Todo dia ainda colocava sua caixinha de música pra tocar. Ao fechar os olhos conseguia sutilmente se sentir jovem por alguns segundos.
Passava lápis nos olhos, batons nos lábios e anéis nos dedos. Era como se fizessem parte dela.
Olhou mais uma vez para a carta que havia chegado. Um antigo amor queria revê-la. Ela parou por alguns segundos e rasgou com as mãos tremulas. Queria que ele se lembrasse dela sem tantos aniversários. Que ele se lembrasse dela com seu vestido roxo e seus olhos azuis sem rugas. Se fosse para amar de novo que fosse realmente novo.
Mas não era amor que procurava. Era ser jovem de novo. Não entedia que paz diziam encontrar na velhice. Ela só via aflição. Não estava tão velha apesar de não estar mais tão jovem, mas para os olhos dela cada vela soprada levava um brilho dela. Segurou o choro para não borrar a maquiagem e ficou se olhando no espelho procurando o que poderia mudar para diminuir as marcas.
Melhoraria ainda mais a alimentação e compraria mais cremes.
Trocaria alguns anos de sua vida para que fosse por alguns dias jovens novamente.
Iria voltar também a fazer yoga.
Mal sabia ela que era em vão aquelas mudanças.
Sua vida encerraria antes do capítulo daquela novela da TV e em pouco tempo ela estaria novamente usando seu vestido roxo.
(Vinícius D'Ávila)
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Thursday, February 14, 2008

Prazer, Bobo da Corte



Pra época em que tudo ocorreu, a história se espalhou muito rápido. O bobo da corte estava apaixonado. Muitos no reino pareciam nem acreditar. Mas era verdade. Tudo nele estava diferente, apesar de serem as mesmas roupas e a mesma maquiagem. Alguns o julgaram! Não era essa a função do bobo. Outros apenas passaram a achar mais graça daquilo que normalmente já era engraçado. Mas o fato que mais espantava a todos é a princesa por quem ele se apaixonou. Iludido.
Alguns soldados do reino flagraram os dois, parecia que não era mesmo só boato. Ela não era a mais bela de todas as princesas, mas era uma das mais bonitas daquele reino. O ar de mistério do caso alimentava ainda mais a curiosidade daquele povo. O rei a principio que queria proibir, se despreocupou. A princesa daria sozinha a punição correta. Muitos dos príncipes daquele reino já haviam se apaixonado por ela. Não sabiam se era por maldade oi ingenuidade, mas ela gostava de fingir que amava. Mas ninguém naquele reino poderia julgar a princesa. Em aspecto de amor somos quase sempre todos culpados.
Agora estavam ali. O bobo e uma amiga da princesa presos em uma das torres do castelo. Por engano um dos soldados os trancaram ali. O bobo só queria mostrar a ela como as estrelas brilhavam diferente vistas daquele local. E agora estava condenada a ouvir o desabafo de um bobo com aquele mar negro diante dos olhos. Pois a escuridão não os deixava ver nada. Ele confessou das noite que não dormiu e dos sonhos que teve mesmo acordado. A amiga da princesa apenas sentiu pena. O bobo também era observador sabia que não teria chances, os príncipes mais interessantes foram dispensados. A amiga percebeu que o bobo era realmente diferente dos outros, não só pelas roupas que usava. Mas ele nem imaginava conhecê-la, estava feliz pelos momentos que teve.
As palavras da amiga o trouxeram pra realidade, mas ele desejou que ela estivesse enganada.
A princesa nunca iria amá-lo.
Ao abrir a porta notava-se a maquiagem do bobo borrada. Provavelmente ele havia chorado a noite, mas ela preferiu não comentar.
E assim as piadas do bobo foram perdendo a graça. E novamente o rei não se preocupou. Dizia que rapidamente ele voltaria a sorrir e ser feliz com o sempre foi.
Bobos. Estúpidos.
Sempre o viram sorrindo, mas nunca o viram feliz.
(Vinícius D'Ávila)
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Monday, February 11, 2008

Lenda Urbana



Um dia li sobre a confusão de uma amiga devido uma dor de barriga e confesso que dei umas boas risadas com o sofrimento dela.
Só não sabia que o próximo seria eu. Ela deve feito algum feitiço, sei lá, não entendo direito essas coisas. Algo do tipo ... “aquele que primeiro ler este texto, sofrerá mais.” Uma espécie de lenda urbana.
Então me desculpem pelas minhas próximas palavras, apenas estou passando para frente.

Estava eu em um dos bares mais movimentados da cidade, em um dos dias mais cheios, na hora mais tumultuada, quando não sei se foi a calabresa ou o ovo que balançou de forma diferente dentro de mim, fazendo minha cor facial mudar para levemente verde. Enquanto meu cérebro e barriga discutiam se dava ou não dava tempo de segurar eu pensava numa tortura para quem havia preparado o meu sanduíche. O certo é que eu nunca saberia realmente o que teria sido responsável.
Eu precisava me distrair. Tentei reparar num casal próximo. Talvez isso ajudaria. Olhei na forma como a mulher cruzava as pernas ou que segurava o copo. Gosto de observar as pessoas. E o rosto? Acho que minha vontade estava tão grande que ela também fazia cara de querer ir ao banheiro. Era agora. Era a hora.
Senti como se a bolsa tivesse estourado. Dei um sorriso sem graça e me levantei antes que o “crime” fosse cometido ali mesmo.
Ainda teria que passar na frente da banda.
E enquanto eu atravessava o bar durante o “...tô me sentindo muito sozinho...”, sentia que havia uma placa de “to indo cagar” em cima de mim. No final do “porque você não cola em mim...” eu já estava dentro do banheiro. LOTADO. Mas mesmo tendo apenas uma cabine, ela estava vazia. Há pessoas que acham interessante conversar no banheiro. Então entrei rapidamente e tentei travar a porta, mas quanto mais eu puxava de um lado a porta abria do outro. (Sim! A porta é difícil de ser compreendida até mesmo pessoalmente, será que tentaram fazer uma porta chique? Tomei raiva também do criador da porta.) Com uma mão segurava a porta “chique” enquanto tentava me equilibrar para seguir um dos mais preciosos conselhos de minha mãe: “Nunca se encostar em vasos sanitários públicos.” E quanto menos barulho eu tentava fazer, mais barulho eu fazia. Era impressionante.
Droga! Esqueci de conferir se havia papel. Não queria ter que me desfazer da minha cueca. Mas sacrifícios as vezes são necessários. Fiz umas duas promessas antes de conferir, mas sim! Havia papel, pouco, mas havia! Quando sai da cabine não havia mais ninguém no banheiro. Acho que nem se eu tivesse gritado “Incêndio” teria esvaziado tão rápido.
Me olhava no espelho aliviado, ainda não acreditando que havia sobrevivido, quando entra o segurança(creio eu que estava armado) para conferir o local. Ele deve ter achado estranho tantas pessoas terem saído rápido do banheiro. Pois eu fiz cara de “eu estava urinando e tenho sinusite” e sai.
Ainda nem tinha me sentado direito quando senti novamente a pontada e voltei ficar verde que poderiam até me chamar de Huck. Dessa vez antes de sair avisei um amigo da mesa e repeti o mesmo ritual, trocando o papel higiênico por guardanapos.
Pois foi quando eu pensei que o pior já teria passado e principalmente que as meninas da mesa não tinham desconfiado, que meu caro amigo grita pra mim sarcasticamente: “Não tinha papel?”
Imediatamente eu mudei minha cara de “Juro que não estava no banheiro” para “Como matar alguém nessa distancia?” E eu que achava que ninguém desconfiaria do sumiço dos guardanapos.



Moral da História I: Não importa quão hábil e ágil você é, alguém vai te sacanear.

Moral da História II: Pior que uma dor de barriga. São duas dores de barriga.


(Vinícius D`Ávila)
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Monday, February 04, 2008

Fim




Desde o primeiro dia em que ele a beijou, ela esperava ele dizer que não sentia mais nada. Ela tão pessimista e ele tão desacreditado. É que ela dificilmente se apaixonava e igualmente dificil se esquecia. Ele era o oposto. Enquanto ela tinha medo de que ele a esquecesse, ele ainda duvidava do que ela sentia. Mas dentro deles havia uma força maior que os ligava, nem precisariam dar um nome. Era a mesma força que os fizeram perdoar os erros um do outro. É que tudo que eles viveram, por mais curto que tenha sido, mudou toda a concepção que eles tinham de dois, de um, de amor. O mesmo amor que eles tinham medo de dizer e de sentir. Mas talvez nem fosse o amor aquele sentimento sem nome que eles sentiam. É só mais uma dessas coisas inexplicáveis da vida. O último abraço foi atrás do muro e eles ficaram se olhando até que ele sumisse no fim da rua. Agora ela estava a espera de um ônibus, sem saber ao certo quando iria voltar. Pois quando chegou o dia por qual ela mais esperou, ela percebeu que não mais queria ir. Mas aprendeu que o medo que sentia não poderia mudar o final. Talvez fosse realmente ali e agora. Talvez não. Aprendeu isso com aquele que ela havia julgado esnobe, mas que se mostrou sábio e amigo.
Isso a confortou.
Talvez aquele que ela julgou não saber amar fosse o que a ensinaria tudo isso.
E ela partiu. Partiu durante o melhor da festa. Enquanto tocava a música mais pedida. Quebrando os lábios no melhor de um beijo.
Partiu com um sorriso triste no rosto.
Aqueles que passaram tanto tempo perto, porém separados, agora estavam juntos, porém distantes.

Talvez se não tivesse sido assim, não teria dado tão certo.



obs.: O fim talvez seja um novo começo só que com um novo nome.

(Vinícius D'Ávila)
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