Thursday, April 17, 2008

O Quadro Pendurado Na Sala




Eles haviam sido feitos um para o outro. Foi um trágico acidente de carro que interrompeu suas histórias. A morte provava ali mais uma vez, que ela era a única certeza da vida. A amada, agora sem o amado, chorou por três meses ininterruptamente. Chorou até perceber que suas lágrimas não adiantavam nada. Passou a chorar apenas nas noites de sábado e ao ouvir Coldplay. Começou amar os domingos e ouvir mais música nacional. Passou a chorar só ao rever as fotos. Guardou tudo em cima do guarda-roupa onde não alcançava sem uma cadeira. Mas pintou um grande quadro dele e pendurou na parede da sala.

Terminou a faculdade. Casou-se. Ainda sorria ao se lembrar dele. Aprendeu da forma mais difícil a se erguer. Colocou o nome dele em seu terceiro filho. Aos poucos entendeu que em alguns casos a intensidade valia mais que a eternidade. E o intenso era apenas um de seus desejos.
Entrou na aula de piano, pintou os cabelos de preto, vendeu o carro.
Tirou o quadro da sala pois a moldura já não combinava mais com a nova cor das paredes. Deu continuidade a partir de onde ela pensou que seria o fim. (Vinícius D'Ávila)
Leia Mais ››

Sunday, April 06, 2008

Decepção




É que naquele dia ele chegou no mesmo horário que normalmente chegava, só não trazia o mesmo sorriso no rosto. Ele ficou bastante tempo pensando no que havia escutado e lembrando dos dias que haviam sido perfeitos. A música que ele tanto gostava, mas que havia se perdido entre aqueles discos velhos, agora tocou inesperadamente e o fez chorar. Chorou escondido no banheiro, pois tinha medo que o vissem chorando. Não queria que além de idiota pensassem que ele fosse fraco. A mesma mão que o ajudou a levantar, ajudou a cortar os pulsos. Era por isso que se sentia tão idiota. Decepção. Era o resumo de tudo. Era o nome da felicidade sem maquiagem.
O maior problema não foi a tristeza sentida no momento, por fatos descobertos do passado, mas o gosto de incerteza deixada pro futuro. E com cada lágrima ia embora uma lembrança dos dias que pareciam perfeitos, mas não foram. E no final da música ele resolveu cobrir o passado com o mesmo pano que secou suas lágrimas. A vantagem de ter sido feito de idiota, é que podemos continuar a fingir que nos fazem de idiota. E o pano que ele secou suas lagrimas um dia ele iria oferecer a quem o fez chorar. Era só uma questão de tempo. (Vinícius D'Ávila)
Leia Mais ››