Monday, May 26, 2008

O Músico Economista



O violão ele ganhou aos 7. Foi um prêmio de uma rifa, ou de um bingo que já nem se lembra mais. Aos treze resolveu aprender a tocar. Queria fazer parte do coral da igreja. E aos catorze resolveu montar sua primeira banda. Seu pai que sempre o incentivava, já que era ele que o levava e buscava nas aulas do conservatório, hoje já se preocupava e o lembrava que o mais importante eram os estudos.
Era necessário aprender diferenciar sonhos de projetos, mas para ele esses dois sempre caminharam juntos.
Ele sentia que havia nascido para isso! Música. Sentia que qualquer coisa que fizesse além disso seria incompleto. Ele sabia da capacidade múltipla que as pessoas possuem de adaptar-se a novas áreas. Mas com ele era diferente.
A felicidade dependia daquelas cordas e daqueles sons.
Aos 17 compôs sua primeira música e recebia elogios por onde tocava. Mas elogios não colocavam dinheiro em casa. É o que seu pai dizia.
Resolveu lutar pelos seus sonhos e construí-los através de seu próprio suor. Começou a trabalhar. Queria juntar dinheiro pra gravar seu primeiro CD.
Caso sua vida resultasse em fracasso, não queria ter cúmplices.
Trabalhava intensamente num emprego arrumado pelo pai. Entrou na faculdade de economia. Queria crescer ali. Queria se estabelecer. Continuava compondo de madrugada, tocando em bares de fim de semana, até que gravou seu primeiro CD.
Dedicou ao pai.
Cresceu na empresa.
E junto com seu crescimento crescia sua falta de tempo para se dedicar aquilo que agora já era só um hobby. As poucos e quase que imperceptivelmente o violão deixou de ser pendurado na parede do quarto, para ser colocado em cima do guarda-roupa. Tocava raramente, em rodas de amigos e reuniões de família.
Pensava em desistir do emprego e da faculdade. Tudo aquilo lhe cansava. Percebeu que teria sido mais fácil enfrentar o mundo com o violão nas mãos do que jogar todos papéis para cima dando lugar para as notas. Formou-se na faculdade.
Tornou-se pai. Tornou-se seu pai.
Ele enfrentou um difícil caminho para realizar um sonho.
Ele se esqueceu do sonho enquanto caminhava.
O que uns chamam de destino irônico , eu chamo de destino trágico. (Vinícius D'Ávila)
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