Monday, July 27, 2009

Os 4 Perfeitos Idiotas 2



Sabe! Não foi por falta de consideração. O tempo passou pros quatro. Era a história dos quatro idiotas que já lhes contei. E apesar de já ter descrito todos eles, os descrevo novamente. Me faz bem.

A primeira. A “idiota romântica”. A idiota baixinha, mas de beleza imensurável. Uma beleza que não se resumia em adjetivos, mas se demonstravam na forma em que ela via o mundo. Com amor. Era assim, que ela enxergava todos. Ela achava filmes românticos apaixonantes, mas os de terror também. Ela acreditava em finais felizes e principalmente, em pessoas felizes. Que príncipes realmente existiam e o dela estava escondido em alguma fila de banco, alguma loja de sapatos, algum corredor de escola, esperando pra trombar com ela e construírem sua história. Os outros idiotas zombavam dela, dizendo que no fim ela moraria só com 17 gatos. Mas não era desejando mal, foi a forma mais sutil que eles encontraram de dizer que nem todas historias de amor são com príncipes. Ou talvez nenhuma.

E apesar das diferenças ela era a melhor amiga da segunda idiota. “Idiota Realista”. A segunda que em nada acreditava, sem provas. Por isso não acreditava muito em amor. Acreditava em casais escolhendo moveis para casa, mas não no amor. A mais forte e mais decidida dos idiotas. A que fazia planos e chorava pouco. Ou quase nunca. E apesar de não acreditar no amor construía uma historia com o terceiro idiota. Apesar de não acreditar no amor, se amavam.

E era esse o terceiro idiota. O “idiota sonhador”,corajoso, de bom coração, mas atitudes confusas. Ele era desligado, só isso. Partia sem despedir e magoava sem perceber, mas sentia que magoava, e a bondade do seu coração era medida não pela quantidade de erros ou acertos, mas pela intensidade de seu arrependimento.

E por fim, o “idiota palhaço”, dramático. Impulsivo. Ele era sonhador também, mas sem coragem, e guardava os seus sonhos no bolso esquerdo, ou no zíper da frente da mochila que era onde guardava tudo aquilo que ele não usava, mas sabia que um dia poderia precisar. E ele era dramático, pois dos quatro ele era o que acompanhava todas histórias imaginando como se fossem novelas.

E os idiotas perceberam que havia passado muito tempo, quando os reencontros se tornaram raros. Uns pensaram que acabou todo o amor. Mas já disse, não era falta de consideração. As vezes era apenas falta de tempo. Eles passaram só se ver nas férias, já não tinham tantos assuntos, não sabiam mais sobre sonhos um dos outros e nem choravam nas despedidas. Choraram algumas noites na hora do banho ou antes de dormir, choraram de saudade. Mas não mais.

A primeira idiota encontrou logo um amor, dois. Mas teve seu coração partido na insensibilidade daqueles que disseram que a amavam, e esqueceu todos aqueles finais felizes que idealizou. E por um motivo idiota brigou com sua melhor amiga idiota, nunca mais se conversaram. Dedicou mais aos estudos e comprou dois cachorros. A segunda idiota chorou no fim da sua história de amor, mesmo não acreditando em amor, enquanto o idiota corajoso juntou seus planos e foi embora daquele lugar. O idiota covarde que tentava sempre juntar o mais próximo possível todos eles, foi o primeiro que se afastou. A última vez que tive notícias ele ainda não tinha corrido atrás de seus sonhos, mas para mim havia sido o mas para mim, apesar da aparente covardia, havia sido o mais corajoso deles todos. Ele verdadeiramente se apaixonou e enfrentou o olhar invejoso daquelas pessoas de queixo grande e vidas infelizes que vivam ali perto.

Depois de anos sem estarem os 4 juntos, se reecontraram no velório de um deles. Perceberam que era esperado que os caminhos se distanciassem como dentes de leite que partem na hora certa. É difícil ser feliz, mais difícil ainda é ser idiota. Hoje em dia somos poucos. (Vinícius D'Ávila)

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Tuesday, July 14, 2009

Eu, ela e os passáros



A vida é engraçada. Dias desses fazemos planos sobre a eternidade, dias outros cancelamos os planos. E quando achamos que estávamos no caminho certo passa alguém e nos avisa que o caminho não era bem aquele. E o problema não é descobrir que se está perdido, mas é perceber que caminhou muito tempo na direção errada. Das muitas histórias que vivi e de outras tantas que aconteceram comigo uma das que me deixam mais saudades é do casal de passarinhos vermelho. Não pela beleza da história, mas pela saudade que ela me faz sentir quando paro pra lembrar.

Lembro-me que uma amiga nos primeiros dias de gravidez precisou ir pro hospital e o médico já avisou que ela só sairia de lá (com sorte) depois dos nove meses. Eu preocupado em consolá-la naquela condenação a solidão, comprei-lhe um passarinho vermelho igualmente solitário. De poucos sons e movimentos igualmente discretos, talvez devido ao longo tempo preso na gaiola, o pássaro vermelho deu mais cor ao quarto branco, mas não dava mais vida. Era bonito de se olhar, mas ao olhar, perceptível que faltava algo. E talvez graças ao dom da coincidência das histórias de amor, um novo pássaro vermelho surgiu na janela daquele quarto.

E ia e voltava com pedaços de ramos no bico e alguns outros objetos estranhos, nada tão estranho quanto um anel de vidro. Abri a gaiola e o guardei lá dentro também. Eu e minha amiga riamos e observávamos como se fossem desenhos animados em tecnologia digital.

- Passáros possuem sentimentos?

- Acho que não!

- Acho que sim!

E passaram um, dois três, quatro meses e eles ali fazendo cada vez mais parte daquele ambiente. Seria muito difícil, por diversas vezes, sem eles ali. Hospital é frio e monótono, mas aqueles pássaros eram totalmente o oposto daquele lugar. Comemoraram conosco o aniversário de minha amiga. Eu, ela e os pássaros.

Criei um afeto por aqueles pássaros, mas aquele afeto, não os tornavam meus. Abri a gaiola, enquanto voavam conseguiam ser ainda mais bonitos. Mas eles também gostavam de estar ali. Não partiram. E por mais que existam milhares de outros pássaros nos céu, eram aqueles pássaros que me faziam sentir feliz! E o pássaro que eu nunca nem havia escutado cantar, compôs até canção!

Dormi. E foi no 9º mês que ao acordar vi um dos pássaros só. Com o anel de vidro no bico percebi que esperava por algo, e eu sabia que ele só não chorava, porque pássaros não sabiam chorar. Eu descobri que 9 meses pode ser muito tempo. Pode ser tempo suficiente pra chegar alguém a vida, ou tempo suficiente para se cansar e resolver partir. Mas isso são só suposições. A única certeza que tenho é que toda decisão tomada rápida demais, gera arrependimentos futuros. Minha amiga tivera a sorte que o médico falou, e estava prestes a ganhar o bebe, voltei ao quarto para buscar as últimas coisas e já não havia mais nenhum pássaro, nem cantando, nem esperando.

Talvez ele só perceba que esperou pouco tempo ou que partiu cedo demais, quando sentir nostálgico e voltar; e perceber que o quarto daquele hospital agora está vazio. Ou talvez nunca sinta falta. Não estou aqui para julgar.

O bebe nasceu e ganhou um nome que lembrava a cor vermelha. Era menina. E eu nunca mais vi aqueles pássaros. Juntos.

Aprendi muita coisa durante aquele tempo, mas só algumas posso confidenciar e dizer.

Os pássaros não nasceram para viverem presos. Mas também não nasceram para viverem sós.

(Vinícius D'Ávila)

(...)

Vamos dar a meia volta

E volta e meia vamos dar

O Anel que tu me destes

Era vidro e se quebrou

O amor que tu me tinhas

Era pouco

E se acabou

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