Friday, September 25, 2009

Há peixes que morrem afogados




Fins sempre me assustaram. Talvez por eu viver numa falsa realidade de que minha vida seja uma novela. Ou um seriado de tevê. A diferença é que eu não espero o fim pra ser feliz. Eu sou feliz agora. A vida é feita de escolhas.

Eu nunca fui de abraços frouxos e conversas adiadas. Porque tudo que tem que ser dito ou tudo que tem que ser feito, que seja. Porque eu demorei muito tempo para entender que meus desejos de que tudo se eternizassem, não eram suficientes para se eternizar tudo que se vivia. Esse que é o problema, calcular a eternidade. Talvez fosse mais fácil entender que não são os fins que sejam trágicos, é que os começos são tão bons. Sabe! Pois por mais limpa que seja a água, os peixes acabam morrendo. A vida é feita de escolhas. E você poderá fingir que nada aconteceu ou se livrar deles. Até as tardes de sábado tediosos terão fins.

É porque para mim, nenhum filme acaba quando acende a luz do cinema. Eu já matei muito herói depois dos créditos.

É porque eu sou saudosista e apaixonado. Pessoas assim brigam contra o fim.

Criar raízes é difícil. Nem sempre as raízes são boas. Mas andar sem equilíbrio é o problema.

Eu prefiro salvar meus peixes. Mas caso eles morram não vou joga-los no vaso e dar descarga. A vida é feita de escolhas e eu prefiro enterrar os meus.

(Vinícius D'Ávila)

Leia Mais ››

Monday, September 07, 2009

Nem todos os anjos possuem asas



Ele não sabia porque. Só sabia que queria descer. Ele era anjo, não santo. Cansou por alguns segundos de assistir a vida dos outros repetidamente, repetidamente. Queria viver os conselhos que deu. E ele que sabia de muito, não sabia chorar, não sentia frio e não acreditava no amor.

Acreditava no amor na sua forma fraternal, mas não entendia esse negocio Romeu e Julieta. Viu o amor ser descrito de diferentes maneiras e em diferentes épocas. Tinha a certeza, que quando as pessoas chamavam de amor, no inicio, era apenas tesão, atração, talvez até paixão. Já depois de um tempo, o que unia ainda mais a pessoa não era o amor, era o afeto. As pessoas se ligavam intimamente. O mesmo sentimento que os faziam chorar em velórios. Usaram a palavra amor só para generalizar. E era assim que acreditava.

E se haveria um dom, era persuadir. E foi assim que conseguiu entre os anjos,o poder de descer.

Pulou numa noite de dezembro. As pessoas estão tão contagiadas por aquele momento que não reparariam na mudança. Mas agora ele poderia se passar por humano. Perdeu seu par de asas, mas não perdeu sua personalidade e seus pontos de vista.

Ele não tinha mais as asas, mas também não possuía características humanas. Ele não era apressado, não sentia dor e não sonhava.

E quis experimentar tudo que não conhecia. Pecado seria continuar. Fumou. E para a consciência não pesar solitária convenceu um jovem que passava ali perto a experimentar também, além de que fumar sozinho não teria graça. Usou seu dom e convenceu o jovem que não se tornariam viciados em uma tragada. Fumaram. Aquele único cigarro deixou uma marca em cada. Um vicio no jovem. E a tão temida consciência pesada solitária no anjo.

E ele partiu aprendendo com os erros.

Ele dava as idéias, mas isso não significava que elas eram certas. As idéias não são boas só pelo fato de serem nossas. Ele entendia de conselhos, não de decisões! Ele depois que abandonou o par de asas tinha a mesma probabilidade de errar como qualquer outra pessoa. E voltar atrás ao perceber o erro. O problema é que alguns erros não se voltam.

Entrou no primeiro bar que viu pra se proteger da chuva. O bar estava vazio, mas poderia estar cheio que notaria a garçonete do sorriso bonito. E naquele momento percebeu que estava se tornando humano. Sentia frio.

E conversou, conheceu e beijou. Viu que o beijo era melhor do que quando lhe contavam, e passou boas noites de sábados ao lado dela, e difíceis tardes de domingo. Diferentemente dele, ela acreditava no amor, em dois, em planos, no tradicional.

E ele tentava explicar toda sua teoria de o que na verdade o amor era ou foi. Mas ela não o escutava muito. As vezes ela dava mais credibilidade a palavras desconhecidas de um locutor do rádio. O que o revoltava era isso, era o fato dela confiar naquela voz que não a conhece e nem nunca a viu, como horóscopos diários, que generalizam as pessoas e resumem todas ações em um único julgamento. “Cor do dia azul”. E você simplesmente concorda e sai com camisa azul esperando mudar o dia. E concordar com frases parcialmente ditas.

A vontade dele era de quebrar aquele rádio, mas isso não são atitudes de anjos

E chegou a uma triste constatação,descobriu que estava enganado. Que o amor existia sim, e descobriu isso amando. Mas descobriu no mesmo dia que a convenceu que o amor não existia. Tipico de fim irônico. Descobriu que amava no dia que a amada desacreditou no amor. Ela só estava confusa.

- Por que estranha? Agora só penso como você!

- Eu estava errado.

- Agora eu que estou.

Havia acabado o tempo de continuar na terra, e o que o fez ter certeza de que era amor, era a dor. O afeto faz com que as pessoas sintam saudades, mas é só o amor que as impede de partir. Ele não saberia se conseguiria corrigir o erro, mas aprenderia com ele. E tentaria ali, com toda sua intensidade fazer com que ela acreditasse no amor da mesma forma que ele acreditou. Amando. (Vinícius D'Ávila)

Leia Mais ››