Wednesday, February 03, 2010

Perfume




Eu nunca fui supersticioso. Mas quando era sobre o amor, eu escutava. Não queria arriscar perder o que eu tinha e o que eu iria ter. Falaram-me de perfumes e dos riscos de se ganhar se quem se ama, em como, supersticiosamente, o amor acabava junto com o liquido dentro dele. Por isso estremeci quando abri aquele presente de papel bonito.

Um perfume.

Ganhei dela, um perfume. E por mais que o cheiro me fizesse bem, por mais que ela dissesse gostar de me ver usando e por mais que o perfume me fizesse lembrar de girassóis, e como eu amo girassóis, eu usava pouco. Quase em conta gotas me deliciava com aquela felicidade aprisionada em frasco. E sempre que me perguntava porque eu o usava pouco, eu sorria maliciosamente. “Pra te ter pra sempre”. Era o que eu gostaria de responder. Se eu pudesse borrifaria o nosso perfume no meu travesseiro, na minha toalha e nos meus amigos, mas eu não queria correr o risco de que acabasse. E quando sobrasse só algumas gotinhas, guardaria como se guardasse meu coração. Pois de certa forma, ali era, meu coração em fase liquida.

Mas não precisamos esperar tanto tempo. Você foi embora com o perfume ainda na metade. Seu amor não esperou o perfume acabar. Acabou antes. E todas as vezes que eu abria a porta daquele guarda-roupa via aquele vidro. Odiava-me por ter economizado, odiava-me por ter acreditado que o perfume te prenderia a mim, odiava-me pelo simples prazer de odiar alguém, e como não tinha forças pra te odiar, me odiei.

Senti sua falta nos dias que me seguiram, mas sua falta foi amenizada por me deliciava agora com doses não mensuradas do nosso (agora meu) perfume. E era como se você ainda estivesse ali comigo. Se eu fechasse os olhos e sentisse o cheiro poderia te ver ao meu lado nos caminhos de volta pra casa. Você prometeu nunca me deixar voltar sozinho, mas voltei sozinho várias vezes nos dias seguintes, mas quando fechava os olhos e sentia o cheiro, você estava lá. E por isso eu usava sem dó. Como um vampiro aproveitando as ultimas horas de noite, ou uma criança aproveitando os últimos dias de verão.

Lembro-me a última vez que abri o guarda roupa e vi que só restava algumas gotas. Borrifei em meus olhos e entre meus dedos. Respirei fundo, como se meu pulmão fosse bloqueado. Abri os olhos e descobri que você não era mais a mesma pessoa. Abri os olhos e descobri que não te amava mais. (Vinícius D'Ávila)
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