Tuesday, June 22, 2010

O Que Poderia Ser Feito Diferente?


Querida Branca,

Andei pensando muito antes de lhe escrever essa última carta. Sobre o príncipe que não fui, sobre a história que não vivemos, sobre a maça envenenada que iniciou nossa história. Eu nunca tive muita vocação para príncipe encantado. Na verdade eu nunca soube conviver com a idéia de pessoas que gostassem mais de mim do que eu delas. Acostumei a ser abandonado. E logo você, entre as princesas a minha preferida. Milhares de príncipes aos seus pés pedindo pra te acordar após morder a maça, e você recusando que eles lhe ousassem beijar.

Ouviram pelo mundo nossa história, mas só nós dois sabemos como ocorreu. Era mais um dos bailes que faziam para que os príncipes conhecessem as princesas e te mostrei um lugar vago ao meu lado. Juro por todos os peixes que eu não tinha segundas intenções, mas te desejei quando aceitou que eu carregasse sua bolsa. Até hoje penso no que eu poderia ter feito diferente. Não que eu tenha arrependido de algo que tenha feito, mas eu me revolto por não ter sido como os outros príncipes, das outras princesas e ter te feito feliz para sempre.

Sabe do que sinto falta? De ver você abrindo o guarda roupa e me pedindo para escolher o que vestir. De você nunca se atrasar e sorrir ao invés de resmungar quando me via chegando sem horário em todos compromissos que marcávamos. De te ver tirar flores de pedra só para me presentear, invertendo os papeis de príncipe e princesa.

Você mordeu a maça e eu não tive coragem suficiente pra ir te acordar. Não era pelo beijo, era pelo medo de como nossa história seria. Eu não estava preparado e eu já não sabia se eu queria que algo ou alguém me prendesse aqui, nesse reino. Ao invés de acorda-la, deitei ao seu lado e dormi também. E quando eu acordei você já estava acordada, mas não pelo meu beijo, mas pelo cansaço da espera. E você também já não me amava mais, pelo contrário, me odiava. Penso no que poderia ter feito diferente. Talvez se eu fosse mais paciente. Talvez se eu tivesse aceitado usar as alianças, talvez se eu tivesse queimado as cartas antigas, ou talvez se eu a beijasse no dia que era para ter beijado, hoje estaríamos aqui, juntos, com cada anão com seu afilhado. Ou talvez eu nunca devesse ter te oferecido aquele lugar vago. Evitaria o amor, mas evitaria o sofrimento.

Antes de dormi joguei no rio os nossos peixes. Não queria nada que me prendesse aqui. Como sacrifícios. Uma menina que joga fora as bonecas velhas para se sentir que realmente cresceu. Abrir mão de sonhos para termos forças e buscar sonhos maiores ainda. É necessário essa dor para sentir o alivio depois.

E apesar do autor ter começado a contar a história a partir do momento que nos conhecemos, passou-se muita coisa antes de realmente nos encontrarmos. De fato, contos de fadas me cansam. Cheguei a acreditar um dia, mas hoje me casam mais que me encantam. É que depois de querer muito amar e amar e amar e para sempre amar, decidi nunca mais amar. Mas sabe o que conclui? Se sempre for muito tempo, nunca também é.

Hoje te vejo com outro príncipe, em outro reino, e quanto menos te tenho, mas linda te vejo. Como as flores do canteiro vizinho que parecem sempre mais bonitas. Acredito enfim, que se eu pudesse voltar no tempo e mudar algo, eu teria mordido a maça no seu lugar.

Porque só haviam dois caminhos a seguir o de levantar e ir embora a procura do que me faltava e o de ser feliz para sempre. Você pode não acreditar, mas eu escolhi os dois.

E se agora chegando ao fim ainda se pergunta o porque escrevi essa carta, te digo que foi para te contar um segredo.

Lembra das inúmeras flores que me deu?

Guardei todas.

E por mais que não acredite te amei. Não sei em que parte exata da historia, mas pela falta que sinto de você, sei que te amei.

Com amor,

Principe Encatado Aventureiro.

(Vinícius D'Ávila)

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Wednesday, June 16, 2010

Três Hipoteses



"Foge que eu te encontro, eu já tenho asas" (Marcelo Camelo)

Eu andava sempre pelos mesmo lugares, e achava graça encontra - lá sempre e tanto. Tudo bem que nossa cidade não era grande suficiente para se perder e se desencontrar. Mas ela esta lá, nas festas em que não tinha idade para entrar, na academia me motivando a voltar sempre lá, nos pontos de ônibus esperando sei lá qual e nas ruas do centro em dias festivos. Haviam amigos meus que eu não via com a mesma freqüência, mesmo combinando, mas ela não. Era como se combinássemos onde iríamos sem avisar.

E cada vez que eu a encontrava acidentalmente eu a desejava mais. E inventava uma desculpa para puxar um assunto ou descobrir seu nome. Não tínhamos amigos em comum, não nascemos na mesma cidade, e nem tínhamos o mesmo gosto pra música, mas ainda sim eu procurava sempre um assunto que pudéssemos desenvolver. Linda. Absolutamente linda. E uma gentileza que a tornava mais linda ainda. Eu não conheço muitas pessoas gentis.

E um dia quando amanheci com vontade de beber, porque raramente eu consigo beber, te encontrei naquela nova velha boite. Bebi caipirinha, cerveja e vodka. Enlouqueci. De um dado momento da festa, as lembranças são apenas flashes. E por estar incrivelmente bêbado, eu dancei mais, sorri mais, cansei mais. Até que sentei em um dos cantos e dormi.

Lembro-me de você me acordando com piadas e me imitando como eu estava dormindo. Ri de mim mesmo e de como era linda mesmo me imitando. Conversamos sobre alguns assuntos que não me recordo, e não me lembro se isso durou poucos ou muitos minutos, mas me lembro que criei coragem e me declarei. Disse como era absurdamente linda e de como eu tremia quando ficava perto dela. De como a vida dela parecia interessante perto da minha sem emoção, e de como eu a desejava. Ela sorriu e disse que me beijaria naquele momento, mas teria que ir embora porque as amigas dela a esperavam na porta. Mas iríamos nos esbarrar tantas vezes para terminar aquela conversa. Que se fosse bom, continuássemos.

Acordei no outro dia com fortes dores de cabeça e com a dúvida se o que eu vivi foi verdade ou sonho. Não conseguia perfeitamente diferenciar. Liguei para um dos meus amigos se ele havia visto algo, ou conversando com alguém que eu lhe descrevia e ele disse que não, mas ele disse que sumi um tempo na festa e quando voltei, voltei feliz e dizendo como era bom estar ali. E só.

E nos dias seguintes ela desapareceu. Não nos encontramos mais. Peguei todas minhas economias e fui em todas as festas dos últimos fins de semana e ela não estava em nenhuma delas. Peguei alguns ônibus errado, entrei em alguma loja que parecia vender roupas que ela gostava de usar, mas não a encontrei. Como se ela tivesse desaparecido. Ninguém sabia de nada. E logo você que eu via sempre, nunca mais vi.

E criei hipoteticamente três histórias para mim naquele dia.

A primeira era que você estivesse realmente bêbada como eu, e só concordou com tudo que eu dizia porque assim estava.

A segunda era que você não concordou com nada. Que dentro de mim todos os “não daria certo” ditos por você se transformassem em meus ouvidos por um meloso “adoraria”. Como se eu fosse idiota suficiente só para escutar as palavras que eu gostaria de ouvir.

A terceira e a mais cruel é a de que você nunca tenha existido. Minha carência por pessoas gentis fez criar você. Minha necessidade de uma história feliz, fez criar nossas conversas. E quando realizou aquilo pelo qual havia sido criada. Sumiu.

E eu que já tive tantas histórias, queria tanto viver a sua.

(Vinícius D'Ávila)

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