Monday, August 16, 2010

De Um Retorno Nunca Confirmado


Ele nunca iria embora. De todos ali, se haviam certeza de algo, era que ele nunca iria embora. Ele ajudaria todos arrumar as malas, mas nunca arrumaria as próprias. Um amigo dizia que era porque protagonistas não morriam. Não era egocentrismo, é que ele tinha essa mania de querer juntar as pessoas, de querer liderar, uma necessidade natural de querer ser cimento fresco.

Ele gostava de colorir corações descoloridos. Só isso.

Até que anunciou que partiria. E se seu coração já não era mais inteiro por tantas despedidas, pensou que ali terminaria de virar pó.

Só que foi invertido. A principio pensou que seu choro estava atrasado, pois abraço nenhum o fazia chorar. Mas as lágrimas desavisadas acabaram vindo em momentos raros, para provar não ter endurecido.

Não chorava por falta de sentimento, ao contrário. Não chorava por estar feliz.

- Por que?

- Por que o que?

- Por que ir embora?

- Você já sabe. Estudar.

- Mas é para estudar algo que poderia ser estudado aqui. Por que ir embora? É aqui que apesar de não saber o nome de quase nenhuma rua, sabe para onde todas irão. Onde moram as pessoas que mais ama, onde nunca fica só. Por que ir embora se diz que é realmente feliz?

- Por mais que lá eu não faça bons amigos, nem seja igualmente feliz, eu não posso permitir que minha vida se resuma a isso.

Só depois que foi questionado que entendeu porque chorava pouco. Não era que não estava entendendo ou não estava doendo, era que o prazer superava a dor a tal ponto de impedi-lo chorar.

Arrumar as malas dos amigos, era mais doloroso, porque ficava ali, a esperança de um retorno nunca confirmado.

Arrumar as próprias malas, te dar uma pseudocerteza de que se nada der certo, basta entrar novamente no ônibus, fechar os olhos, e quando abrir, tudo voltaria a ser como antes.

De fato de onde partia viva as pessoas que amava, mas para onde iria vivia as pessoas que iria amar.

E no dia de subir no ônibus, apesar da lágrima solitária ele sorriu por ter uma certeza.

Partir dói mais pra quem fica.

E partiu.

(Vinícius D'Ávila)
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