Saturday, January 01, 2011

Por favor, não me esqueça



O ciúme acabava sendo apenas um problema generalizado de pessoas excessivamente carentes. Deixando claro que carência excessiva não é desejar um abraço demorado, ou uma companhia certa de ir ao cinema. É se emocionar assistindo comédias românticas adolescentes e acreditar que aquilo aconteceria com você. Um de meus amigos falava que essa carência era devido a ausência de meu pai, que passou toda infância viajando e trazendo presentes pra suprir essa falta. A maioria eram suvenires compradas de ultima hora que ele juntava com uma historia fantasiosa para tornar o presente ainda mais único pra filha que ele não via crescer. Como a ultima miniatura de peixe em que me deu dizendo ser presente de um anjo, e que quando eu quisesse realizar qualquer desejo, bastava jogar o peixe no rio e desejar. Isso foi pouco antes dele morrer, fazendo com que eu deixasse o peixe pendurado no quarto, pois mais do que desejos, já eram partes de mim.

Não que eu tenha depositado todas as minhas esperanças de felicidade em você. Mas é que você surgiu transformando meus dias em mais curtos, nascer medos que eu nem sabia que existiam, e eu que tinha tanto controle sobre meu corpo e sobre meus pensamentos, depois de você todas as coisas pareceram vazias, e todos os vazios mais insuportáveis, como se eu devesse agradecer a Deus todos os dias por ter deixado de ser infeliz, mesmo sem saber que era infeliz.

E meu medo não era só de te perder. Era de não amar mais. Não ser mais feliz. Porque no inicio eu não queria um grande amor. Eu só queria um romance pra poder contar pros meus amigos, mas você veio como um pacote completo e eu não tive como não abrir.

E agora que eu já sabia o que era o amor eu não poderia voltar pra minha vida sem voce, como se eu pudesse viver enxergando preto e branco facilmente se eu nunca soubesse o que eram cores, mas agora que eu sei que elas existiam, seria ter uma constante sensação de que sempre me faltaria algo.

E eu achava que não havia mudado, ate que aceitei que o ciúme já tomava conta de mim e eu não sabia como controlá-lo. Eu aprendi a ser mais paciente, a ser mais vaidosa, a gostar mais de musicas internacionais, mas eu já não sabia mais ser só.

Meus ciúmes eram reflexos da duvida de como poderia me amar. Sempre me odiei por te ver sem defeitos. Não que eles não existam, mas são tão insignificantes diante do que eu sinto. E aumentou quando disse que já não me amava da mesma forma como no inicio, apesar de que ainda me amava. Doeu porque naquele dia eu tinha certeza que meu amor era bem maior que o do inicio e eu não sabia o que fazer para que seu amor não continuasse a diminuir. Eram três anos, quantos mais teríamos?

Você veio me falando de pessoas novas e interessantes, e eu me sentido inferiorizada como candidata derrotada num concurso de miss, com maquiagem borrada e os jurados perguntando o que eu estaria fazendo ali. E mesmo quando não falava nada eu seguia seus olhos quando via garotas mais bonitas, fazendo com que eu imaginasse por qual delas me trocaria, foi então que decidi.

Sabia que usava colírio, troquei os seus por outro produto e dessa forma não enxergaria mais, conseqüentemente me amaria para sempre. Eram seus olhos pelo nosso amor, eu já estava tão atordoada que eu poderia jurar que era uma troca justa. E a principio nem me arrependi. Usava meu egoísmo como justificativa como se eu fosse a primeira pessoa a ser abandonada por alguém. Mas você já estava cego, nunca saberia e eu já era sua, não havia porque se arrepender.

E como eu fui estúpida em perceber que a falta de olhos não faria deixar de me amar. Começou a notar de maneira mais aguçada outros sentidos. Poderia se apaixonar pelo toque, pelo cheiro, pejo jeito de conversar ou pelos interesses em comum. Poderia me esquecer mesmo que no mundo fosse só eu e você. E me arrependi não só pela visão que retirei, mas pelo sentimento de culpa de nunca confessar que havia sido a responsável. E apesar de nunca ter me dito que não me amava mais eu sempre tinha a certeza que já não era mais o mesmo. Eu esperava o dia em que diria que havia me esquecido pensando numa maneira para que não me esquecesse.

Sempre admirei sua maturidade em aceitar as mudanças, já eu era imatura demais para entender que a beleza do nosso amor e talvez de todos os outros que hoje estou julgando, não estava no fato de ser a única de fato interessante, e sim porque entre todas as opções, me considerar a melhor.

Eu dizia querer somente ser feliz e que me amasse para sempre, sem perceber o quão ridícula isso dizendo a palavra somente antes da palavra sempre. Então me lembrei dos peixes do meu pai, e que pendurado no meu quarto estava sempre a espera do pedido ainda não desejado.

Corri de minha casa ate um rio perto, com todas as pessoas na rua me olhando como se soubessem que eu abandonaria uma parte de mim. Joguei o peixe na água e desejei bem alto que voltasse a enxergar, enquanto poderia desejar que me amasse para sempre.

E todas as coisas voltaram ao normal, a não ser pelo fato de aceitar que estava me esquecendo. (Vinícius D'Ávila)

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