Monday, March 05, 2012

Não espere muito de mim


"Eu não quero ver você
Passar a noite em claro
Sinto muito se não fui seu mais raro amor
E quando o dia terminar
E quando o sol se inclinar
Eu posso por uma toalha
E te servir o jantar" (Amores Imperfeitos - Skank)


Eu esperava que você chegasse e elogiasse o jantar, mas ao invés disso você ficou insistentemente reclamando do calor como se o sol quente fosse um privilegio seu. Não era minha metade cozinheira te pedindo elogios, era minha metade esposa que estava carente de você.
Que seja. Em todos esses anos de casamento eu esperei por tantas coisas que não se concretizaram. Esperei que desse mais beijos espontâneos e não se limitasse em me abraçar só em respostas aos meus. Esperei na mesma intensidade, por coisas pequenas a coisas grandes, que demorasse menos pra se vestir e que me acordasse novamente com beijos. Não que eu estivesse forçando a sua criatividade, pois lembro-me bem do início do nosso namoro que despertei diversas vezes sorrindo porque seu beijo era a melhor invenção de despertador. Não sei se havia se esquecido de como fazer ou se já não mais sentia prazer a me ver acordar, mas te confesso, que esperei noite após noite que na parte da manhã você me acordasse com um beijo no lugar daquele alarme que invadia meus sonhos e os fazia acabar.
Esperei que você fosse menos real e percebi que estava sendo egoísta em esperar isso e tentei aumentar a distância entre o homem que você é do homem que eu gostaria que fosse. Porque no fundo eu sabia que eu não era a mulher dos seus sonhos. Talvez a mulher dos seus sonhos tivesse olhos mais claros e soubesse dançar melhor, mas eu tentava superar isso com aqueles bolinhos surpresas que você dizia que adorava quando sua mãe fazia.
Você não era o homem dos meus sonhos, mas era o homem da minha vida. Porque eu te amava em todas as suas imperfeições, mesmo sempre desejando que você fosse mais romântico e eu menos carente, até que alcançássemos juntos um equilíbrio perfeito. Mas a realidade foi que a balança pesava cada vez mais para o meu lado na minha espera interminável que você cantasse uma música romântica para mim.
Não entende que na minha concepção de mundo perfeito todos os casais felizes têm uma música tema? E eu gostava de Nando Reis e você de Guns N` Roses. Talvez se Adele não fosse tão depressiva, encontrássemos uma que falasse por nós dois. O problema é que apesar de todos esses anos juntos e dezenas de músicas embalarem nossos romances nunca adotamos nenhuma de fato.
E eu esperei tanta coisa.
Esperei que demonstrasse ser mais feliz ao me lado, que seu sorriso fosse ainda mais bonito, que as pessoas desejassem ser como a gente. Esperei que você não transparecesse tão desanimado sempre. Tudo bem que no casamento dos meus sonhos as roupas no varal não demorariam tanto para secar e fazer algo diferente em todo almoço seria mais fácil.. Mas quer saber? As roupas poderiam ficar a vida inteira estendida, porque só você bastava. Entende? No casamento dos meus sonhos os acontecimentos eram diferentes, mas do meu lado eu só via você. E o que me perturbava era não saber se eu te bastava.
Eu esperava que nosso casamento fosse tão bom quanto o nosso namoro, quando ficamos uma madrugada inteira juntos nos questionando internamente se havia alguma forma no mundo de ser ainda mais feliz.
Eu esperava que ao me chamar para conversar seria sobre ideias de como melhorarmos tudo aquilo, de ter um filho, fazer uma viagem ou comprar um cachorro. Não esperava que fosse me avisar que estava com as malas prontas e nossas vidas não podiam se resumir em nossa história.
Eu esperava que fosse ser mais fácil e que não demoraria tanto para voltar a sorrir. Mas quando o amor já não era mais amor foi mais fácil refletir.
Demorei muito, mas por fim eu consegui entender, que apesar de esperar muito de você, abandonar-me era o melhor que você tinha para fazer por mim. (Vinícius D'Ávila)
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Saturday, March 03, 2012

A verdade sobre a fada dos dentes


"Se não vai, não desvie a minha estrela" (Gram - Você pode ir na janela)

Eu sempre tive uma dificuldade maior em desacreditar nas coisas e nas pessoas. Acreditei em Coelho da Pascoa até o fim da minha adolescência, mas só aceitei que fosse mentira depois de encontrar meus pais simulando pegadas de coelho com leite em pó. Porque para mim existiam coelhos distribuindo ovos espalhados por ai,  fadas trocando dentes por moedas, um papai que se chamava Noel.
Talvez vocês não entendam como me senti quando puxei a barba do velhinho e descobri que ela não era real. As pessoas não entendiam essa minha capacidade de acreditar e de continuar acreditando por mais que o que antecedesse me fizesse pensar ao contrário.
Foi assim também com duendes no fim do arco-íris e fadas dos dentes. A fada foi a última lenda que eu persisti em acreditar e por mais que me diziam não existir, para mim era ela que me dava moedas embaixo do travesseiro em troca de todos os meus dentes de leite.
Já mais velho arranquei no dentista o dente siso e com toda fé que eu tinha o escondi embaixo do meu travesseiro. Meus pais já não alimentavam mais minhas esperanças para o que não existia e ali era chance de provar para os outros que ter fé não era idiota ou provar para mim mesmo que era.
Dormi a tarde inteira para que o sono não me visitasse naquela noite e com os olhos entreabertos esperei a chegada da fada. Surpreendentemente, até para mim mesmo, ela veio.
E eu sorri mostrando todos os meus dentes, porque eu simplesmente não sabia dizer a ela como eu estava feliz em saber que ela existia. Leve os meus dentes, mas obrigado por me deixar com fé. Era o que eu queria dizer.
Mas enquanto eu pensava em como compartilhar como meus amigos que a fada existia sim, eles acreditando ou não, as coisas começaram a desandar.
A fada era rude e impaciente.
- Posso te dar um abraço?
- E amassar o meu vestido? Além disso estou com muita pressa. Essa regra dos dentes era apenas para dentes de leite, mas o sindicato agora mudou e nos obrigou agora dar moedas em troca de qualquer dente.
- Mas é que eu queria apenas demonstrar o quão fantástico estou sentindo ao saber que você existe.
- Pois é existo! E trabalho também. E essa conversa todo só está me atrasando. Ou vai visitar as casas das outras banguelas no meu lugar? – A fada perguntou e também respondeu. – Não. Não vai. Agora me dê logo seu dente se não levo embora a sua moeda.
As coisas deram certo, mas o certo não era como eu esperava.
Eu fiquei até o amanhecer imaginando o quão decepcionante foi o dia que mais ansiei. Questionando-me se ela não entendia que apenas pequenos gestos de gentileza teria deixado tudo tão mais bonito. Ela não precisava me visitar por todo o sempre, mas já que estava aqui, não podia ao menos sorrir como um esforço de preservar uma boa última lembrança? Mas ao invés disso partiu meu coração em vários pedaços e deixou cada pedaço doendo como se fosse um coração inteiro.
E quando já havia amanhecido eu conclui que não contaria a ninguém a existência dela.
Ela existe sim, mas levou muito mais do que me trouxe, tanto, que teria sido melhor que eu realmente estivesse enganado e ela não fosse real. (Vinícius D'Ávila)
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