Monday, August 20, 2012

Quantas vezes amamos na vida?



"Duvide até da verdade, mas confie no meu amor" (Shakerpeare)



É que uma vez me disseram que só amávamos uma vez na vida. E isso ficou martelando em minha cabeça como uma tentativa de explicar o que em minha vida foi amor e o que foi entusiasmo. Como em um talkshow em que eu precisava eliminar todos aqueles que julguei que haviam sido amores, mas não foram. Gente criando regra pra gente.

A primeira vez que eu amei, não precisei de nada mais que um olhar na direção certa. Tomado por aquela beleza bondosa para meus olhos, mas cruel para minhas mãos. Eu achava que meu coração poderia parar do nada enquanto ela amarrava os cabelos e com a ajuda dos dedos desembaraçava as pontas. Ela não precisou ser gentil, nem enviar flores. Isso só intensificou. Porque no primeiro segundo que a vi eu já a amei da maneira mais adolescente que alguém poderia amar. Em que a felicidade se resumia a ter um sorriso retornado e era imperdoável não escolher sentar ao meu lado. Eu dediquei uma adolescência inteira tentando conquista-la, como se fosse possível ela me amar na facilidade em que a amei. Até que entendi que ela era tudo para mim e eu nunca seria nada para ela. Porque o amor já havia feito suas escolhas.

A segunda vez que eu amei, eu precisei beijar. Não que não fosse bonita, pelo contrário, mas belezas já não me causavam mais que simples atração. Durante o primeiro beijo eu precisei abrir os olhos para ter certeza que era possível mesmo sentir tanto prazer somente em beijar alguém. A companhia dela me fazia tão bem, que os anos de namoro me deram conforto, pois mesmo se eu nunca fosse bem sucedido profissionalmente, mesmo que a maior parte dos meus sonhos fossem adiados, eu sabia que havia alcançado o máximo do sucesso na vida amorosa. Numa dependência exagerada, que qualquer lugar que ela não estava, tornava-se monótono e sem graça. Pelo medo que passei em ter da morte, pelo medo que passei em ter a perder, não tinha como duvidar que não fosse amor. Mas como no melhor dos nossos filmes, a última cena chegou. E não precisou ninguém morrer para darmos adeus.

A terceira vez que eu amei, eu precisei perder. Ela era perfeitinha demais. Tinha um futuro promissor, saia bem em fotos e me trazia um presente a cada encontro. Mas o amor já me desagravada proporcionalmente na intensidade que ela se dedicava a mim e eu não conseguia gostar de alguém assim. Era complicado estar do outro lado da história e por não saber o que fazer, abri mão e deixei que partisse. Foi quando passou um mês inteiro e não recebi nenhuma carta, quando ela começou a postar desenhos que não eram para mim, que eu percebi a falta que ela fazia e o quanto a queria para mim. Mas já não éramos mais os mesmos. O eu idealizado e o ela apaixonada, já não existiam mais.

É que uma vez me disseram que a gente só ama uma vez na vida. Mas só se a gente permitir. Eu amei três vezes. Sim. Eu sei. A vida endurece a gente. A gente nasce manteiga e morre pedra. Mas como eu disse, só se a gente permitir. Tem gente que depois que sofre, não se entrega de novo, enquanto tem gente que acha que só porque não deu certo é que não foi amor. Tenho orgulho de ser manteiga esperando uma quarta vez.

Mas que dessa vez seja pela convivência. Seja por alguém que não me ame menos quando o cabeleireiro errar no corte. Seja por alguém que não desista de mim quando surgir alguém aparentemente mais interessante. Seja por alguém que não tenha a palavra terminar como idéia inicial se um dos dois for para longe. Alguém que eu mostre os meus filmes favoritos e que assista mesmo que seja para dizer que não gostou. E vai compreender o meu temperamento sem longas explicações. Que o amor não seja fruto de uma ação, mas da soma de todas elas.

Eu amei diversas vezes na minha vida, com maturidade diferente, em formas e fases diferentes, por motivos diferentes. E por mais que contadas separadamente pareçam sobre sentimentos diferentes, todas elas são histórias de amor. (Vinícius D'Ávila)
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