Wednesday, June 12, 2013

Denart e Silvana






Queridos pais,

Eu sempre me questionei se eu era o filho que vocês imaginavam ter. Se escolhi a profissão que pensavam para mim e se cresci mais ou menos o quanto esperavam. Sempre me perguntei se vocês brincavam de me imaginar "gente grande" quando eu ainda estava na barriga ou a expectativa de vocês enquanto eu aprendia a ler. Sempre fantasiei a reação de vocês ao descobrir que eu estava por vir ou de como modificaram o mundo seus depois que eu cheguei. Sempre tentei visualizar a escolha do meu nome, se já era um de seus nomes favoritos ou se foi escolhido ali na hora. Sempre quis lembrar da primeira vez que me apelidaram de "vica" ou se choraram ou riram quando aprendi a falar.


Sempre tentei imaginá-los mais jovens, queria descobrir o quão parecido sou de vocês. Eu sempre quis dar muito orgulho. Nasci com o dom de não ser habilidoso em nenhum esporte e no prazo máximo de um ano desistia de todos os instrumentos musicais que ousei tentar aprender a tocar, mas em todas as apresentações e campeonatos da escola eu sempre quis poder chegar contando o quão bem eu fui. Como se minha felicidade dependesse da admiração de vocês e ao mesmo tempo fosse a maior força que eu precisasse para continuar. Quando deixei minha posição de filho e descobri como era difícil o mundo fora de casa, que comida não brotava na geladeira e que não existiam roupas auto-laváveis, eu compreendi a dimensão da dificuldade de cuidar de si mesmo. Ai constantemente lembrava de vocês. E que além de cuidarem de si, cuidavam da gente. E dos muitos sonhos seus que foram guardados em prol dos nossos. 

Sempre quis ver vocês felizes e dai surge minha incansável necessidade de jamais decepcionar. Talvez eu não consiga dizer o quão eu amo vocês e acabe até sendo repetitivo nas palavras tentando descrever o óbvio, mas eu também não consigo dimensionar o tamanho do amor de vocês por mim. E sabe que é isso que me faz pensar em um dia ter filho? Saber que viria alguém que me ame da forma como nos amamos. E quando precisei sair de casa, alcançar voos mais altos, ir para mais longe e por um bom tempo entendi que já morava no melhor lugar do mundo! Porque abraço de mãe é melhor que qualquer remédio pra gripe, porque palavras de pai nos deixa mais confiante que cinto de segurança. Nas últimas férias em que passei em casa, talvez vivendo a última oportunidade na condição de filho, eu tive vontade de fazer com que o tempo parasse. Mas no fim eu compreendi que melhor do que torna-lo estático, era vive-lo bem. E a maneira simples de fazer vocês felizes, era sendo feliz também. 


Com amor,



(Vinícius D'Ávila)