Monday, December 28, 2015

Ingrid



E sempre que eu chegava atrasado eu te procurava na sala com a esperança de que estivesse atrasada também. É mais fácil quando se divide a bronca. E nos explicávamos juntos com mais juras que desculpas de que nunca mais iriamos nos atrasar. Mas a impontualidade não era nada. A gente compartilhava tantas outras coisas, do sonho em fazer teatro, que foi o que nos juntou, ao caminho de volta para casa. Sabia que por muito tempo eu me questionei porque caminhávamos tanto, se havia outros pontos de ônibus para ambos mais próximo. Mas eu nunca falei nada porque eu acreditava que você também compartilhava o prazer de irmos embora juntos. Para ficarmos mais tempo conversando, como se interiormente já soubéssemos que um dia iriamos nos separar.

E voltávamos de mãos dadas cantando nosso eclético repertorio sem nos preocuparmos o que pensavam as pessoas que nos viam nas ruas. E no teatro, mesmo rodeado de pessoas com os mesmos sonhos éramos tão diferentes dos demais, mas tão semelhantes um do outro. Nos protegendo em qualquer discussão. Sei que posso estar sendo excessivamente meloso, mas é que eu quero que saiba que você tem a melhor interpretação de aeromoça desesperada do mundo, que eu me derreto quando me chama de amor, que ver você chorando é infalível para que eu fique com vontade chorar e que grande parte do prazer de fazer teatro era saber que você também estaria lá. E mesmo que adormeça nosso sonho de sermos atores, mesmo que a vida nos torne pontuais, mesmo que mudemos cada vez para casas mais distantes, não deixe de me amar, ok? Que eu juro te amar para sempre também.