Saturday, January 13, 2007

O Amor Em Seu Formato Minímo



Na verdade eles não foram formalmente apresentados. Ele havia chegado primeiro, e achava que a festa já tinha praticamente terminado. Pensava ele. Mas nem poderia ir embora, pois estava de carona. Nem se sabe o porquê que naquele exato momento ele resolveu ir para porta. Não estava bêbado, mas não conseguia beber mais cerveja e apesar de ter chegado um grupo com um número razoável de pessoas, entre tantos rostos, ele só via um. E um refrão de uma mesma música que ficou repetindo em sua mente.

Na verdade eles não foram formalmente apresentados. Uma amiga em comum gritou seus nomes ao cumprimentá-los na fila do banheiro. Afinal, haviam sido essas as primeiras palavras trocadas.

- Onde fica o banheiro?

Nada de cena romântica. Mas nem precisava. Entre músicas e goles, risos e olhares, se encantaram com assuntos cotidianos e perceberam que apesar de não parecer, tinham muito em comum. Ela estava mais pra estilo alternativo. Usava saia hippie, cabelos soltos, covinha no sorriso. Uma gaita era seu chaveiro. Ele parecia mais moço-bem-comportado. Usava uma blusa dessas marcas famosas. Cabelo fio a fio no lugar. Seu sorriso era sempre muito discreto. Uma santa era seu chaveiro. Que Renato não me julgue, mas só faltavam se chamar Eduardo e Mônica. Mas não! Dessa vez era real! Começou a chover e todos se amontoaram nos cômodos da casa. Foi ai que ele não a via mais. Talvez o erro foi não prestar atenção nas falas do amigo, mas viu o portão da casa aberto e saiu. No meio da chuva entre tantas gotas, estava ela. Ele a seguiu sem mesmo entender o que iria fazer.

Ele tremia com a chuva, enquanto ela parecia nem se molhar. Saiu dizendo que procurava um táxi e mesmo ele odiando estar molhado, resolveu acompanhar. Num momento certo pra ele, tentou beija-la. Já ela se esquivou, mas pediu seu telefone. Entregou um bloco de anotações e sorriu ao vê-lo escrever com letras tremidas. Eles passaram por uma casa vermelho-sangue, uma árvore com uma colmeia, restos de uma antiga construção. E não acharam táxi! Não encontraram ninguém. Até o guarda noturno parecia querer deixá-los a sós.

Escutando ainda de longe a música da festa, ele hesitou em voltar. Encostou-se ao muro da casa vermelha tentando entender se todo aquele tremor era realmente o frio. Foi quando ela roubou um beijo que o paralisou, fazendo-o se questionar se não era ele que deveria ter feito aquilo. Abriu os olhos para que o próximo beijo não fosse de surpresa e a viu já longe entrar de volta pelo portão. Caminhou feliz aceitando silenciosamente o convite de brincar de gato e rato. O problema foi que antes que entrasse também, encontrou o amigo que mais cedo ignorou.  Ele precisava ir embora e precisava que o amigo fosse com ele, por um motivo que só complicaria mais a historia se aqui fosse explicado. Com a tristeza de um gato que ver seu rato partir, entrou no carro e foi.  Naquele instante ele parou de tremer, a chuva parou de ser fria, a rua deixou de estar vazia. Naquele instante ele mudou alguns de seus antigos conceitos. Percebeu que não era o tempo e sim a intensidade que determinava a importância das coisas. E naquele instante desejou mais que toda fé do mundo, que seu telefone tocasse. Afinal, só um telefonema poderia fazer companhia as 3 coisas que conseguiu de fato levar dali: um nome, um rosto e um beijo. Nada mais que isso. (Vinícius D'Ávila)