Tuesday, September 04, 2007

Me acorde quando chegar...



“Era vermelho. Vermelho vivo.” Talvez foram essas as palavras que lhe serviram de inspiração.
Diz a lenda que tudo começou por serem duas rainhas. Outros dizem que era por serem dois reis.
Era a lenda mais triste entre todas as lendas. Eram dois reis, pois se tratava de irmãos gêmeos. E a inveja entre as duas rainhas foi inevitável. Mal sabiam elas que poderia brilhar mais de uma estrela num mesmo céu. Aquele brilho não era o bastante.
A Generosa engravidou.
A Invejosa (me desculpem pela aparente redundância) invejou.
E foi uma maldição em cima da pequena sobrinha que viria. Todos que a princesa se apaixonasse, quase instantaneamente morreria. Poderia haver maldição mais cruel? A pequena princesa cresceu sendo obrigada a afastar qualquer pessoa que tentasse se aproximar. Ela reunia toda beleza e tristeza num só corpo. Ela sentia inveja de pequenas coisas. Dos beijos e momentos banais que parar outros poderiam ser comum, para ela eram sonhos. Por que certas pessoas incomodavam tanto com os sentimentos dela? Ela não queria ter nascido assim. Quando ela começava a sentir seu coração bater ou seu sangue ferver, ela fechava os olhos e se imaginava numa banheira fria. Estúpida. Não poderia reprimir aquilo por tanto tempo. E foram os olhos que a hipnotizaram. Quando ela menos percebeu estava totalmente seduzida. Pensava, pensava e pensava, não entendia o que estava acontecendo, afinal, nunca havia se sentido assim. O vermelho vivo foi surgindo lentamente. A certeza de que era amor veio quando não suportou a idéia de vê-lo partir. Por que ele a beijou? Por que ela não o segurou? O vermelho já manchava suas roupas. Ela precisava ir no lugar dele. Afinal, ele havia lhe dado seus únicos segundos de felicidade naquele beijo. Pela ultima vez olhou para as paredes, olhou suas unhas, lembrou do beijo. Lentamente foi fechando os olhos enquanto lagrimas que a perseguiram por toda vida, também a acompanhavam agora. Ela até parecia que havia dormido, mas não era só isso. E partiu deixando um reino de duas rainhas. Uma que viveu de tristeza. Uma que viveu de remorso pelas mentiras que havia contado. Um quase príncipe que viveu de saudade. E lembranças de uma jovem, que foi de tudo (de princesa a guerreira), foi de tudo, menos feliz. (Vinícius D'Ávila)