Wednesday, October 24, 2007

Meninos Também Choram



Fui acordado com algo que parecia um soco.
Mas não era.
A mão dele estava calculadamente fria. Acho que tinha algum poder que controlava a temperatura corporal. 4:58 am. Aos poucos fui lembrando o que estava fazendo ali. Contei um, dois, quatro, seis. Estavam todos ainda como quando eu havia adormecido. Era engraçado a facilidade que como tantos risos coloridos se transformaram estranhamente num silêncio preto e branco. Mas estavam todos ali. A garota de palavras sábias e pés cansados agora olhava em direção do nada. O garoto calmo e prestativo mantinha a calma que muitos já não tinham. A garota bem vestida que antes cantava animadamente agora simplesmente dormia. Sem esquecer do garoto que me acordou com murros, enquanto cantarolava uma canção, que acabou se tornando tema do momento, afinal de qualquer outra maneira, as palavras insistiam em não sair. Todos os cinco estavam ali pelo mesmo motivo. Consolar o sexto. Se tudo tivesse dado certo, depois da festa, estariam todos dormindo em suas respectivas camas. Mas um acidente de carro mudou o destino deles.  O sexto, que poderia ser exemplo de como ser correto, naquela noite havia cometido erros. Suas lagrimas insistiam em cair e eu, que era o mais perdido de todos, cansado, ansioso e angustiado, simplesmente não sabia o que dizer. O acidente já havia acontecido e nada do que eu dissesse mudaria isso. Eu ouvia os conselhos que os outros davam e sorria em forma de concordância, amenizando a culpa de nada dizer. Não sabíamos porque estávamos ali e nem tínhamos coragem de pedir que ele não chorasse. Mas sabíamos que precisávamos estar. Afinal, mesmo que eu não dissesse nada, a minha presença também era importante. Talvez, importante até mais para mim. (Vinícius D'Ávila)