Friday, October 12, 2007

Saudades dos que não partiram





Ao passar na frente daquele velho ginásio, gritos me acertaram como se fossem um empurrão. Se não possuísse pernas firmes, eu teria caído ali. Fizeram-me parar instantaneamente e ficar ouvindo aqueles gritos de alegria. Era incrível a semelhança. Principalmente se eu fechasse os olhos, a realidade se tornava tão latente que eu era capaz de visualizar rostos por mais que eu soubesse que não eram eles a gritar. Por alguns segundos pensei em entrar no ginásio pra matar aquela triste saudade do tempo do colégio. Mas nada lá dentro seria a igual, além do som.
Nem as pessoas, nem as roupas, nem mesmo a pintura da quadra. Hesitei. Era melhor mesmo ouvir de fora e partir sentido saudades. Eu poderia não aguentar se resolvesse entrar. E como sou saudosista. Mas eles precisavam mesmo ter até os mesmos gritos de guerras que a gente?
Isso é algo que não me acostumo. A saudade evocada por algum sentindo que subitamente começou trabalhar. O cheiro de perfume te lembra as festas da sua adolescência, o gosto de canela te faz lembrar a goma de mascar que você e seu amigo eram viciados em comprar, o som de apitos evocava a época de jogos olímpicos de seu colégio. Tudo em detalhes trazendo lembranças e pessoas de um tempo que não voltam mais. Pessoas que foram se transformando de melhores amigos para íntimos desconhecidos. Aquelas pessoas que você confiava tantos segredos e hoje se resumem em rápidos comprimentos pela rua. Por que se as pessoas não são tiradas de nós, elas simplesmente mudam. E a principio se isso me causava tanta revolta, é mais simples compreender que não precisamos ficar nos questionando tanto. As perdas. As pessoas. É o ciclo natural da vida.
Saudades daqueles que eu via todo dia e hoje se espalharam lá fora. Saudades daquela que estava todo dia ao meu lado e hoje só me visita em sonhos. Saudade daquele que eu contava todos os meus problemas, e hoje só ouve meu bom dia.
A aceitação surgiu, após uma das ultimas vezes em que conversei com um antigo amigo ao telefone. Era como se fosse as mesmas vozes só que de pessoas diferentes. Os planos e os assuntos já não eram mais os mesmo e a despedida não foi como o de costume. Foi como se interiormente já soubéssemos que não mais nos falaríamos. Pensei em ligar de novo e dizer o quanto sentia falta daqueles antigos dias, e que aquela voz me lembrava um amigo que por muitas vezes me segurou. Hesitei. Porque assim cono no ginásio, nada ali dentro dele era o mesmo, além do som. (Vinícius D'Ávila)