Wednesday, January 16, 2008

Começo




Ela estava com o amor próprio tão abalado, que acreditava que os elogios feitos eram realmente piadas. "Deve estar zombando de mim". E ele se fechava, pois vinha sendo assombrado pelos amores do passado. "Não quero mais me envolver com ninguém".

Foi repentinamente.

Naquela noite tudo que ela queria era dançar, como se seus pés tivessem criado vida própria e dançar fosse o mesmo que respirar para que eles sobrevivessem. Naquela noite ele só queria beber, mas seus amigos estavam mais de uma hora atrasados e ele estava constrangido de esperar tanto tempo sozinho. Mas estavam ali, frente a frente, na oportunidade única de se beijarem. De um beijo que quebrou tabus. O dela, que apostava na impossibilidade de realizar seu desejo. O dele, que jurou por um bom tempo não beijar ninguém.

E a história se iniciou.

E depois dali, ambos duvidaram um do que o outro sentia. Achavam que era piada, efemeridade, inocência, carência, indecência, mas não amor. Talvez por ambos já terem dito que amavam sem amar, por ouvirem um "te amo muito" e depois um "não tenho tanta certeza assim". Sempre acabando muito rápido para que fosse amor de fato. Independente do que sentiam, acreditavam que a lua conseguia brilhar mais quando estavam por perto e até adotaram uma música que falava sobre a lua.

E escrevia. Acostumou-se a escrever quando se sentia triste. Constantemente escrevia. Gostava dessa ideia de coisificar sentimentos, de dar vida a personagens que só existiam em sua cabeça, de dar fim as suas histórias que de fato não concretizaram. O mesmo fim que ela tinha medo que fosse trágico e por isso, diversas vezes pensou em evitá-lo. Até que ele mostrou que por mais trágico que fosse um fim, haveria um começo que faria valer a pena. Um começo cheio de dias inconsequentes, dormindo fora de casa e acordando quase meio dia. Um começo de dois corações retalhados, mas que funcionavam muito bem quando juntos. Um começo.

E termino essa história tão em aberto como começou. Porque no fim não digo que eles foram felizes, digo que eles estavam felizes, mas sinceramente, isso só bastava. Talvez alguém um dia sobreviva para contar o final sobre um casal que viveu eternamente feliz ou sobre alguém que sofreu uma perda. Mas não hoje, não agora. Essa história é sobre começos, não sobre fins. Porque definitivamente, concluíram, não era necessário que fosse eterno, para que fosse amor. E mesmo sem ainda saberem, simplesmente era.
(Vinícius D'Ávila)