Monday, September 15, 2008

Do Ponto de Vista de Branca




Ela odiava aquele local, mas não tinha um melhor lugar pra ir. Branca de Neve, que preferia ser chamada apenas de Branca, já trabalhava a meses naquele bar. Ela havia escutado todo tipo de história por de trás daquele balcão. Mas só escutava e nada dizia. Ela se preocupava em ajudar a todos que não percebia que também precisava de ajuda e de alguém. Mas de todas que um dia escutou, a que mais a tocou foi daquela novata no bar. Não por ser mais triste do que todas as outras, mas porque foi dita quando ela precisava escutar. Cinderela, agora a nova funcionária, chegou numa noite de grande movimento, e mesmo com tantas pessoas foi inevitável que não chamasse atenção. Em pouco tempo se tornaram grandes amigas. Branca adorava a forma como ela gesticulava pra falar e ria das piadas sem graça dela. Cinderela trazia no meio da bagagem uma coleção de historias tristes. Talvez tenha sido esse o motivo de Branca não querer contar o motivo de estar ali. Branca preferiu inventar que havia se entediado dos anões ao invés de abrir pra cinderela sua triste história. “Cinderela já tinha problemas de mais”, pensava Branca. Branca não tinha noção de como sua voz curava Cinderela. E por dentro.


Cinderela esperou por anos a chegada do príncipe encantado. Esperou usando um apertado sapatinho de cristal. O mesmo que ela quebrou ao descobrir que o príncipe nunca chegaria. A fada que diria que iria ajudá-la e torná-la bela sumiu antes da meia noite daquele dia e nunca mais voltou. Foi ai que ela decidiu partir e ir pro bar.


Branca estava no dia que o príncipe chegou ao bar. E achou graça da amiga se esconder por de trás do balcão com vergonha do amado. Deu forças para amiga e ficou imensamente feliz de ver os dois juntos. Talvez mais feliz do que a própria Cinderela. Ela percebeu que perderia talvez naquele momento a amiga, mas ficou feliz de que ela tenha conseguido se recuperar. Era o casal mais bonito que já havia conhecido.


Certo dia quando o bar já estava perto de fechar, Cinderela a puxou e mesmo sem entender ela deixou ser puxada. Cinderela a empurrou pra um dos últimos clientes e colocou uma música pra que dançassem. Cinderela tinha mania de achar que poderia controlar e ajudar na vida de todos. Branca tinha a ilusão que qualquer envolvimento amoroso traria dor e causaria falta de tempo. Mal sabia ela que é o amor (somado a um pouco de dor) que faz as relações durarem e não o tempo.


Ela percebeu primeiro que Cinderela que o príncipe estava diferente. Depois de tanto tempo juntos, ela notou a frieza dele em relação a sua amiga. E certo dia, ao chegar no bar deu de frente com o príncipe indo embora, sem ao menos despedir. Ele dizia não ter coragem de olhar nos olhos dela, mas ela não aceitou aquela atitude e pediu pra que ele voltasse mesmo que fosse apenas para dar um adeus. Ele ainda relutando contra essa atitude disse não ter coragem de voltar, não conseguiria olhar nos olhos dela depois de ter saído sem se despedir. Ela sugeriu inventar uma desculpa de que havia saído pra comprar cigarros.


Ela entrou primeiro no bar e viu a amiga coberta de lagrimas. Deu um abraço nela que ela jamais iria esquecer. Branca não sabia mais se podia ajudar a amiga. Talvez fosse o momento dela amadurecer sozinha. Ela agora também tinha uma dança marcada com o príncipe daquela dança forçada e de acordo com os cálculos dela em alguns dias ela comeria a maça envenenada. Ao ver o príncipe entrar, preferiu ir embora. Já sabia como seria o final daquela historia. Ela preferia ficar triste do que ver a amiga triste. Enxugou umas lagrimas enquanto saia e deixou um embrulho perto das coisas dela. Branca dava agora para cinderela um presente. Um novo sapatinho de cristal. Ao abrir o embrulho Cinderela se sentiu radiante (Vinícius D'Ávila)