Thursday, November 13, 2008

Minha Metate Pessimista




Eu sempre tive uma ligação maior com o cinema. Enquanto meu irmão mais velho sempre preferia jogos de futebol e o irmão mais novo preferia música, eu sempre amei cinema. E dentro de mim eu tinha uma certeza vazia de que iria trabalhar com isso, mas nunca imaginava por onde começar. E uma parte de mim temia que eu acabasse trabalhando em um banco ou funcionário público. Era horrível ter que explicar que eu não queria ser ator, mas queria trabalhar no cinema. Eu dizia diretor, mesmo não sabendo o que um diretor fazia. Nem sabia que havia faculdade de cinema e quando pequeno achava que só existiam três opções: odonto, direito e medicina. Mas mesmo assim comecei fazendo meus pequenos roteiros com as "surpresinhas" de kinder ovo para um único espectador – meu irmão mais novo – com a condição que depois eu assistisse as histórias dele. E o engraçado é que qualquer filme que eu visse eu acreditava que era real. Dentro de mim ficava uma parte do filme.

Depois de Toy story eu voltava correndo para ver se ainda via meus brinquedos se mexendo e depois do Show de Truman eu passei boa parte da minha vida acreditando era filmado. Mas eu acreditava fielmente. Eu imaginava os traillers, as músicas, para cada momento que eu vivia. Em certos momentos até andei mais devagar, pois achei que os momentos exigiam uma câmera lenta. [riem] Mas aos poucos fui acostumando com a idéia de que não teria tempo nem disposição para realizar todos os meus sonhos. Passei a entender que talvez sonhos sejam apenas um motivo pra nos mantermos vivos. E é ai que morremos, quando já realizamos todos eles... Ou quando percebemos que não temos mais forças pra realizá-los. Reparem no número de vezes que falo sobre a morte, sobre sonhos e sobre o amor. São basicamente os únicos 3 assuntos que escrevo – se aceitarmos que amizade não deixa de ser uma outra forma de amor. Hoje eu descobri que a vida é separada em 3 fases. A primeira que acreditamos em tudo e imaginamos tudo. Que sonhamos em ser jogador de futebol, dono de hotel e piloto de avião. A segunda é a que temos força. Levantamos cedo, dormimos tarde, bebemos muito e ainda queremos mudar o mundo. Planejamos também, mas agora com mais detalhes como ir ao trabalho de helicóptero. A terceira fase é a que nos conformamos. Algumas pessoas preferem dividir entre infância, juventude e maturidade. Eu tenho a minha divisão. E na próxima vida vou pedir pra me acordarem antes que todos os planos sejam esquecidos. Ou as três fases estejam ligadas a outras três divisões. A fase de sonhar, a de amar e a de morrer, não necessariamente nessa ordem. Pois o problema não está em acreditar que sua vida é ficção, mas é um dia perceber que nada disso é realidade. O problema é um dia ter que arrancar todos os poemas das paredes por eles já não emocionarem mais ninguém. E o que mais incomoda aos outros é minha mania de comparação. Talvez não seja uma mania de imitar apenas os filmes, mas de me comparar a eles e a tudo. Pontos de referencias. Exemplos de como eu deveria ser. Talvez minha vida seja uma analogia. E amar seja como comer bolo, sonhar como dirigir e morrer como dormir – ao menos pra mim. Pois bolo de chocolate para mim é assim, passo uma semana pedindo pelo famoso bolo de chocolate e quando pronto, fecho os olhos em cada mordida, não me importando com os farelos que caem no chão nem com os gritos que receberei depois, pois cada pedaço faz valer a pena cada grito. Pois dirigir para mim é assim, é tão fácil ver os outros fazendo, e fazendo várias outras coisas ao mesmo tempo, enquanto diante de mim é como se houvesse uma barreira inexplicável. Pois para mim dormir é assim, fechar os olhos sem saber o que nos espera depois.

(Vinícius D´Ávila)