Saturday, December 27, 2008

Botas 39 para pés 41




A bota era 39 e seus pés 41. Sentou-se no chão para facilitar calçar, enquanto sua prima sentou-se para rir. O elástico da barba branca prendia a orelha fazendo com que ficasse vermelha e dolorida e o espaço entre o bigode e ela era pequeno demais para que ele pronunciasse palavras que exigissem maiores movimentos. “Ho Ho Ho” foi tudo que foi orientado a dizer. O resto seria com ele. O cinto não segurava nem as calças quanto mais a falsa barriga,  a mesma barriga que no fim da noite voltaria a ser travesseiro. Naqule natal, deixou de ser criança para ser Papai Noel. “Esse vermelho é de André”, “o com listras de Arthur”, mas ele nunca conseguiria decorar tantos presentes e se distraiu olhando pela janela as crianças se diveritrem e esperarem por ele. “Esse aqui é de rafa”, “esse de Lê” e entre a extensa lista, uma frase lhe chamou atenção: “Quando você era pequeno, eu que me vesti assim.” Ele não se lembrava, queria lembrar mas não se lembrava. Nunca conseguiu entender porque gostava tanto do natal e sabia que não era por causa de presentes.

Não sabia qual expectativa de vida dos Papais Noeis. Por quantos natais uma criança consegue acreditar? Talvez já velho chegou achar que fosse bobagem, mas só quem se veste de papai noel sabe a importância de continuar. É como o aleitamento materno. Todas as crianças precisam, não há uma idade certa para parar e você pode não perceber, mas isso a torna mais forte.

Apagaram as luzes da casa! Passou antes no banheiro pra olhar como havia ficado. Nem ele mesmo havia o reconhecido. Desceu calmamente as escadas, o escuro e a roupa atrapalhavam. Esqueceu o sino. Voltou. Esqueceu o saco. Voltou. Viu as crianças novamente correndo. Parou. Lembrou de seus amigos que não gostavam de natal e pensou: preciso manter acessa a fé. Hoje nasce um futuro papai noel . Tocou o sino e entrou.
(Vinícius D'Ávila)