Thursday, December 11, 2008

De três restaram dois





Até 1 ano e 10 meses no quarto só dormiam dois, depois disso passou a ser três. E se o mais velho conseqüentemente acaba se tornando mais autoritário, o mais novo corre o risco de se tornar mimado. E mesmo ele sendo mais novo ele tinha o mesmo número de fotos quando criança. O fato de ser o terceiro não fez com que nossos pais perdessem o gosto por guardar as fotos. Eu nunca tive vocação para ser irmão mais velho, nunca tive instinto protetor e nunca tive um quarto só meu. E mesmo com a saída do meu irmão mais velho do quarto ficou um ainda ali, o mais novo. Enquanto um queri ler o outro queria ver TV e enquanto um queria ver TV o outro queria dormir. É sempre assim. E exercíamos bem as funções de irmãos, brigávamos sempre e criticávamos sempre uns aos outros. Pois quando se recebe um elogio de um irmão pode ter certeza que conseguiu atingir a perfeição. Irmãos são feitos pra criarem apelidos e rir dos nossos defeitos. Irmãos são feitos pra nos apoiar, mas ao mesmo tempo fingir que está criticando. Só irmãos possuem essa habilidade. Irmãos são feitos para não demonstrarem sentimentos, apenas sentirem. Pelo menos é assim comigo e meus irmãos.



E quebrando toda regra cronológica o primeiro a ir embora foi o mais novo. Enquanto o mais velho apenas trocou de quarto, o mais novo partiu deixando um espaço vazio em gavetas que antes eram apertadas, e um pensamento de que pela última vez ouviria um violão tocando na sala. O violão que eu comprei, mas que ele aprendeu tocar. Por toda vida em tudo entravamos juntos, grupos de jovens, escoteiros, inglês, escola. Era como se fosse um melhor amigo só que sem confidencias, conversávamos muitos, mas sobre música, cinema e religião. Pois foi em uma das voltas do inglês depois de uma tentativa de assalto (ou de assassinato), que o vi chorando (até hoje não sei se foi pelo perigo que passei ou porque ficou com medo também, até hoje eu não sei se tem motivo), mas também comecei a chorar e vi que eu não sabia ser irmão mais velho. E me senti bem por saber que aquelas incontrolaveis lagrimas possivelmente eram por mim. Mas prefir nunca saber. E apesar de todas diferenças, já começo a sentir falta, pois esse ano terá um papel a menos no amigo oculto e as tardes serão mais silenciosas. É como se agora eu sentisse que sei menos sobre cinema, música e livros. É estranho entrar no quarto e não ter roupas espalhadas. Partiu a parte sonhadora da casa. E por mais que eu demonstrasse a todos que eu não me importava com todo aquele sentimentalismo, dentro de mim parecia que algo também havia ido embora. Aquela parte minha que se irritava com o jeito arrogante dele falar ou da preguiça em arrumar as coisas, era como se tudo isso já não causasse mais problemas e agora só restava a falta das piadas que só ele sabia fazer. Porque muitos dos nossos amigos sempre nos fazem bem a maior parte do tempo pra nos decepcionariam no fim. Irmãos nos enchem a maior parte do tempo para no fim descobrimos que sempre foram essenciais. E que apesar de todas brigas, de todas diferenças, de todos apelidos inevitáveis e juras de nunca mais conversar, hoje sinto falta. E no fim chego a duas conclusões. É impossível mudar o destino e confiar na durabilidade das coisas, um dia estamos almoçando com toda a família no outro estamos voltando pra casa sozinho. E por último e mais estranho é que hoje eu tenho um quarto só meu, mas isso agora já não me deixa feliz. (Vinícius D'Ávila)

Obs.: E que meus irmãos nunca lêem sobre suas reais importâncias, se não assim eu perderia real função de irmão. Amar fingido que não ama.