Tuesday, December 02, 2008

O Dia em que Todos o Odiariam




Seu nome, seu signo e a posição dos planetas no dia do seu nascimento já indicavam que a voz seria sua principal arma durante toda vida. Ele gostava (apenas gostava) de cantar, de contar piadas e conversar. Aquelas únicas coisas que o restou fazer, já que praticamente ele não possuia dons. Contava longas historias d.e.t.a.l.h.a.d.a.m.e.n.t.e, algumas até intermináveis. Falava de estrelas cadentes, de insetos e sobre poesias. Ele conseguia expor tão bem suas idéias que conseguia defender bem seu ponto de vista. Ele era criativo e cheio de piadas rápidas. Ele adorava dar conselhos mesmo para problemas que ele nunca havia vivido. E particularmente ele se dava melhor com palavras que com pessoas. O que ele não sabia é que seu dom aparente seria motivo de tanta discórdia.
Sua professora de canto coral do grupo que participava já havia alertado que havia um besouro entre os alunos, e intimamente ele sabia que era ele. A maioria dos seus amigos disseram o quanto suas histórias eram na verdade cansativas e sem fundamento. Excesso de detalhes tirava na verdade a graça de tudo. O mostraram o quanto ele era manipulador e como o pseudoconselheiro na verdade nada sabia ouvir, apenas palpitava na vida de quem as vezes mal conhecia. A maioria das pessoas que ele conhecia estavam cansadas de vê-lo reclamar e cansados das brincadeiras desagradáveis que ele fazia. E das mesmas que nunca aceitava. E se algo poderia salvar era o dom de guardar segredo, mas nem esse dom permaneceu intacto. O fato era em pouco tempo todos o odiariam. Pois se num primeiro momento ele causava alguns risadas, depois de certa convivência ele causava antipatia.

E na volta pra casa acompanhado pela sombra da noite ele viu o que esperava desde o início da semana ver. A estrela cadente que ele sempre falava. E por temer o dia em que todos o odiariam fechou os olhos e desejou que ficasse mudo. E ficou.


E se num primeiro momento as pessoas achavam que se tratava de brincadeira percebeu que era verdade quando depois das festas ele não comentava mais sobre as músicas que tocou e quando suas demonstrações de felicidades passaram a ser resumidas em sorrisos.
E mesmo depois de perder a voz, algumas pessoas ainda o odiaram. Mas não todas.
(Vinícius D'Ávila)