Sunday, January 11, 2009

Love me, please, love me




E quando os ponteiros do relógio se reuniram todos no mesmo ponto o mundo começou a girar ao contrário, mas ninguém percebeu. Só ele. Era coincidência ou o ruivo já havia profetizado isso em suas músicas? Era a culpa de ser exageradamente sentimentalista. Percebia as coisas fácil demais.

Doia, queimava, doía, queimava e depois doía mais um pouco todo aquele sentimentalismo. E as pessoas se assustavam em vê-lo chorando pois depois de muito tempo sem chorar, ele chorou. Chorou lagrimas incontroláveis por causa de palavras que não deveriam ser escutadas. E naquela noite fez mais frio que todas as outras noites e chegou tarde demais para buscar o cobertor no armário, uma parte dele havia ficado lá fora. A parte que o aquecia sempre. Era engraçado ver que a pessoa que consolava os outros também chorava, é como um dia descobrir que os médicos adoecem ou que as mulheres da padaria vão a missa. Sempre achou que a vida era feita de personagens.

E apesar de ser uma pessoa que sempre dizia o que pensava e o que sentia, nunca tirava um sorriso do rosto. Não conseguia ficar triste por mais de alguns segundos. E nem calado. Mas ele era assim. Ame-o ou deixe-o, mas não o peça pra mudar. Peça pra fazer silêncio as vezes ou peça pra ficar sério por alguns dias. Mas mudar jamais. E isso era o que de certa forma comovia todos em volta, o que sempre estava lá chato e critico estava agora chorando. O que se levantava mais cedo pra lavar os copos, o que sentava para ouvir e por diversas vezes por não saber o que dizer sorria, o que era assim não porque ele queria, mas é que sua mãe sempre colocava medo quando ele subia em algum lugar muito alto. Ele se sentia bem em ser chato, mas não sabia se conseguia fazer os outros bem.

Ele não queria chamar a atenção, mas ele também não queria chorar e não conseguia. “Você é tão bonzinho que não consigo ver chorar.” Ele não era bom nem forte. A vida é feita de personagens, lembra?

E ele possivelmente não resistiria àquela noite fria. Ele não suportava o frio e não tinha forças para se aquecer sozinho, seus amigos tiveram que ir e o deixaram deitado num banco pensando porque era assim tão frágil. Comeu um pastel assado frio e criou uma teoria em sua cabeça de que as pessoas só conseguiam amá-lo depois que ele fosse embora. Sempre havia sido assim. É de sabor amargo o gosto da partida, talvez fosse esse amargo que fazia despertar o que ele não conseguia com seus sorrisos frouxos e palavras tolas. Ame-o ou deixe-o, mas por favor não faça os dois. Não diga que o ama depois que for embora. Como todas as outras pessoas fizeram, umas porque realmente descobriram que o amaram e outras porque sentiram pena.

E chega perto do fim a história do menino que só era amado em sua ausência. Chega ao fim decorada por bolhas de sabão. Bolhas de sabão frias. Ele ainda tentou voltar e gritar pra que novamente pudesse entrar, mas as pessoas lá dentro já estavam novamente bem e não ouviam por seus gritos. Voltou para sua noite fria e começou a fechar os olhos para que dessa vez fosse amado eternamente, ou não. Fechou os olhos ao som de “Love me, please, Love me” e com gosto de pastel assado frio na boca. Pastel assado frio e amargo. E partiu e percebeu que nem todas partidas eram amargas. A morte tinha sabor doce. (Vinícius D`Ávila)