Thursday, January 15, 2009

Minha Melhor Amiga Vampira



Ela tinha certeza que vampiros só existiam em livros e filmes. Tinha certeza até que um dia foi comprovada a presença de vampiros entre os humanos. O fato é que nenhum vampiro era louco o bastante a se entregar. Tentavam, muitas vezes sem sucesso, se passarem por humanos. E ela que sempre havia sido muito desligada e desinformada de assuntos de atualidades, ela que na época era nova demais pra se preocupar com qualquer outro assunto que não fosse novas edições da Capricho se surpreendeu ao descobrir que sua melhor amiga era uma vampira.
E ela podia simplesmente se afastar de uma forma sutil para que não a ofende-se, mas ela não preferiu assim. Afinal, elas não eram amigas por gostarem de alho, elas eram amigas porque tinham confidencias, porque uma tomava as dores da outra e apesar de estilos diferentes se davam bem. Coisas sem explicação. Coisa.

E ela percebeu que havia muito mais vampiros do que ela imaginava, até mesmo sua paixão de infância. Eles viviam na sombra, escondendo-se da luz do sol, que queimava mais neles. E por diversas vezes também se escondeu da luz do sol, não porque a queimava, pois apesar da sua pele ser muito branca, ela era humana, mas proque gostava de estar com eles.
E os vampiros ainda eram temidos. Julgados e condenados sem chance de se defenderem. Mal sabiam eles que havia séculos que os vampiros já não mais se alimentavam de sangue de humanos. Mas isso não era o bastante. A maioria das pessoas desejava a morte, o extermínio o exílio deles. A maioria, mas não ela. Aqueles humanos que se achavam incrivelmente perfeitos. Sabem como são os humanos. Escondem suas fraquezas pra desvendar a dos outros e com as falhas dos outros se sentirem mais fortes.

E aos poucos foi conhecendo os vampiros, e a forma como viviam e caçavam. As cavernas que alguns viviam e foi fazendo amigos entre eles. E de tanto andar entre eles foi apontada como um deles. “Diga-me com quem tu andas que eu te direi que tu és”. Se seguissem fielmente o livro sagrado, nem os cabelos cortariam. Mas o verdadeiro surdo apenas ouve o que lhe convém. E suas tias e agregados alertavam e se preocupavam, mesmo sendo comprovado depois de séculos e séculos que os vampiros não mais contaminavam os humanos. Não é dizendo que todos os vampiros fossem bons, assim como todos os humanos não são. O fato é que ela não podia cravar uma estaca no peito da sua melhor amiga pra assim se sentir mais humana. Mal sabia sua tia que ela conviveu com vários vampiros sem saber. Sua professora da oitava serie, seu primeiro amor, a faxineira que lava o chão onde ela pisa todo dia, o rapaz atrás da fila do cinema e todas aquelas pessoas que por ela passaram, mas não a morderam.

E ao longo dos anos fizeram filmes sobre vampiros. Alguns com lendas verdadeiras, mas outros com historias extremamente fantasiosas. Historias de humanas que se apaixonavam por vampiros e de vampiro que matava vampiro. Todas que alimentavam ainda mais a sanidade dos adoráveis humanos.

Ingênua. Os vampiros andaram entre os humanos e nem por isso tornaram-se humanos. Ela até poderia um dia beber sangue. Mas vomitaria. Não é de sua essência. Ela não era vampira.
E a menina dos amigos vampiros um dia bebeu vodka demais. Ou foi cerveja? E conversou com o vampiro mais velho ali presente. E lhe confessou as palavras de uma das tias e o medo que ela tinha por terem amigos assim. E entre um dos soluços disse que tentava explicar as tias, que gostava do interior daqueles vampiros e que queria o bem deles, mas que também não concordava com o fato de viverem cem anos e se esconderem do sol.

E o não tão velho vampiro parou e por alguns segundos pensou. Se até aquela que os intimamente conhecia não conseguia os compreender, o que esperar dos outros? Escreveu um bilhete, arrancou os caninos e mandou que a amiga entregasse a tia junto com o bilhete. Afinal, pessoas normais não possuem caninos maiores, pessoas normais possuem trinta miniaturas de papais noeis na mesa ou um copo separado em casa para o membro da família beber água. Mas se esconder do sol? Jamais.

Subiu em silêncio as escadas do prédio e entregou também em silencio o envelope a tia. Sem entender ela leu as poucas palavras escritas naquele pedaço de papel rasgado. “Agora não há mais o que temer. Agora já pode ser feliz!” Horrorizada. Segurou o par de dentes caninos e totalmente gritou para sobrinha que já abria a porta:
- E o que faço com isso?
- Faça um chaveiro.
(Vinícius D`Ávila)