Friday, February 20, 2009

De Palha




De palha. Era disso que era feito. Vou lhes confessar que foi umas das pessoas mais diferentes que eu já vi. Enquanto a maioria das pessoas buscavam ser felizes, ele buscava ser de carne. Só depois fui entender que ele havia colocado na cabeça que só seria feliz assim e que no fim buscava realmente o que todos buscavam. Sendo igual as outras pessoas, de carne e osso, seria mais fácil. E era isso que buscava quando eu o encontrei.

No pouco tempo que conversamos descobri que realmente havia pessoas de gênios mais fortes que o meu, e ele era um deles. E me segurei pra não chorar diante da história dele. De uma família de sete filhos. Ele. O sétimo. O único. Havia nascido feito de palha. E não havia uma explicação lógica. E ficar procurando explicação para isso não mudaria as coisas. Ele era assim, mas acreditava que poderia e queria mudar. Seria mais fácil ser como os irmãos. E eu que já tinha ouvido falar desde vampiros a garotas de vidro, me assustei com um garoto de palha.

De paciência curta, se estressava tão rápido como a palha pegava fogo. Definitivamente, paciência não era uma de suas qualidades. Ansioso. Acredito que a paciência é inversalmente proporcional a ansiedade. Não se pode ter as duas.

Certa vez ouviu falar de um caminho de tijolos dourados, mas achou que era tudo bobagem. Eu dava despistadas risadas da blusa que usava. “É proibido fumar”. E se contradizia em duas tragadas. Fumava pra se acalmar, mas não percebia o quanto aquilo era perigoso. A palha queima muito rápido. Eu com minha mania de conselhos chatos preferi ficar calado. Eu já havia percebido o teor de sua paciência.

E aos poucos fui entendendo que a palha mostrava a essência dele.

E ele viajou pra longe a espera de encontrar o que lhe faltava. Partiu pra perto do irmão que mais amava com a mala cheia de sonhos e a esperança de que um dia, acordaria como os irmão. Acreditava que existia uma regra certa ou um lugar exato pra ser feliz. Mas não havia. Foi lá que ele entendeu que poderia estar em qualquer lugar e feito até de vento e poderia não ser feliz. Não poderia enquanto não aprendesse a viver com os defeitos. Voltou mais rápido do que esperava.

Questionava que sendo de palha não poderia ser amado e se esquecia das inúmeras qualidades que possuía. Cantava e tocava violão como ninguém. Escrevia bem também. Ria de piadas sem graça. Era inteligente e campeão estadual de war. Se ele se escutasse enquanto cantasse, nem notaria a palha.

Um dia se cansou de tudo. De esperar ser feliz, de esperar ser de carne, de esperar a paciência, de esperar, que correu sem direção até chegar em um local completamente escuro para que acendesse o seu inseparável isqueiro e colocasse fim a sua espera. E como toda magia de todas histórias, o fogo iluminou um caminho que tava ao lado, mas não havia percebido.

O que parecia ser o fim se tornou uma oportunidade de um novo começo.

Resolveu acreditar e com passos curtos iniciou a caminhada.

E foi ai que eu o encontrei e pude lhe ouvir. Mas o tempo era curto e havia muitos outros passos para dar.

E aos poucos fui entendendo que a palha mostrava a essência dele. Talvez se ele não fosse de palha, não teria a mesma graça. Talvez nem teria graça. Mas torço pra que ele consiga achar o fim dos tijolos amarelos. Pra que mande cartas escritas á mão feita de ossos. Talvez no fim do caminho, ele descubra que a maneira mais fácil de se tornar feliz, é olhar ao redor e perceber que já é feliz. (Vinícius D`Ávila)