Tuesday, July 14, 2009

Eu, ela e os passáros



A vida é engraçada. Dias desses fazemos planos sobre a eternidade, dias outros cancelamos os planos. E quando achamos que estávamos no caminho certo passa alguém e nos avisa que o caminho não era bem aquele. E o problema não é descobrir que se está perdido, mas é perceber que caminhou muito tempo na direção errada. Das muitas histórias que vivi e de outras tantas que aconteceram comigo uma das que me deixam mais saudades é do casal de passarinhos vermelho. Não pela beleza da história, mas pela saudade que ela me faz sentir quando paro pra lembrar.

Lembro-me que uma amiga nos primeiros dias de gravidez precisou ir pro hospital e o médico já avisou que ela só sairia de lá (com sorte) depois dos nove meses. Eu preocupado em consolá-la naquela condenação a solidão, comprei-lhe um passarinho vermelho igualmente solitário. De poucos sons e movimentos igualmente discretos, talvez devido ao longo tempo preso na gaiola, o pássaro vermelho deu mais cor ao quarto branco, mas não dava mais vida. Era bonito de se olhar, mas ao olhar, perceptível que faltava algo. E talvez graças ao dom da coincidência das histórias de amor, um novo pássaro vermelho surgiu na janela daquele quarto.

E ia e voltava com pedaços de ramos no bico e alguns outros objetos estranhos, nada tão estranho quanto um anel de vidro. Abri a gaiola e o guardei lá dentro também. Eu e minha amiga riamos e observávamos como se fossem desenhos animados em tecnologia digital.

- Passáros possuem sentimentos?

- Acho que não!

- Acho que sim!

E passaram um, dois três, quatro meses e eles ali fazendo cada vez mais parte daquele ambiente. Seria muito difícil, por diversas vezes, sem eles ali. Hospital é frio e monótono, mas aqueles pássaros eram totalmente o oposto daquele lugar. Comemoraram conosco o aniversário de minha amiga. Eu, ela e os pássaros.

Criei um afeto por aqueles pássaros, mas aquele afeto, não os tornavam meus. Abri a gaiola, enquanto voavam conseguiam ser ainda mais bonitos. Mas eles também gostavam de estar ali. Não partiram. E por mais que existam milhares de outros pássaros nos céu, eram aqueles pássaros que me faziam sentir feliz! E o pássaro que eu nunca nem havia escutado cantar, compôs até canção!

Dormi. E foi no 9º mês que ao acordar vi um dos pássaros só. Com o anel de vidro no bico percebi que esperava por algo, e eu sabia que ele só não chorava, porque pássaros não sabiam chorar. Eu descobri que 9 meses pode ser muito tempo. Pode ser tempo suficiente pra chegar alguém a vida, ou tempo suficiente para se cansar e resolver partir. Mas isso são só suposições. A única certeza que tenho é que toda decisão tomada rápida demais, gera arrependimentos futuros. Minha amiga tivera a sorte que o médico falou, e estava prestes a ganhar o bebe, voltei ao quarto para buscar as últimas coisas e já não havia mais nenhum pássaro, nem cantando, nem esperando.

Talvez ele só perceba que esperou pouco tempo ou que partiu cedo demais, quando sentir nostálgico e voltar; e perceber que o quarto daquele hospital agora está vazio. Ou talvez nunca sinta falta. Não estou aqui para julgar.

O bebe nasceu e ganhou um nome que lembrava a cor vermelha. Era menina. E eu nunca mais vi aqueles pássaros. Juntos.

Aprendi muita coisa durante aquele tempo, mas só algumas posso confidenciar e dizer.

Os pássaros não nasceram para viverem presos. Mas também não nasceram para viverem sós.

(Vinícius D'Ávila)

(...)

Vamos dar a meia volta

E volta e meia vamos dar

O Anel que tu me destes

Era vidro e se quebrou

O amor que tu me tinhas

Era pouco

E se acabou