Wednesday, March 10, 2010

Três Vezes Te Amo




Eu amei três vezes em minha vida. Fulana, Beltrana e Ciclana.

Na verdade eu sempre tive muita pressa pro amor, desejo inexplicável de que as coisas acontecessem mais rápido. Talvez por ajudar sempre todos os meus amigos em presente do dia dos namorados e escolhendo "musicas-temas" para embalar os romances ou talvez por estar cansado de querer ser feliz vendo outras pessoas felizes. Como crianças a espera da merenda escolar, a que parece ter mais fome, é a última que recebe o lanche. E enquanto vê todas as outras crianças já lanchando, senta e chora. E o pior de tudo é quando a professora te vê chorando por bobagem, enche seu prato mais do que você pode comer e ainda diz: "Come tudo que é pra aprender a nunca mais chorar por comida." Eu preferiria que dessem bombons pra que fosse mais fácil esperar.

Eu só queria um amor.

Então conheci Fulana. Quando eu ainda tinha (muitas) espinhas e minha voz estava atravessando a fase das mudanças. Nunca me imaginei com ela e ser o melhor amigo dela já era suficiente pra me fazer feliz. Eu achava. Ela era A garota da escola. Indiscutivelmente a mais linda e com uma simpatia que se não te fizesse apaixonar o faria ficar ao menos umas três noites sem dormir. E quando eu já estava me acostumando viver na sombra dela e me alimentando da felicidade que escorria dos labios dela enquanto ela comia aquele lanche com muito molho, ela me beijou. Eu passei tantos anos a amando em silêncio e beijando tantas meninas sem amor, que quando ela me beijou naquela escada fria eu disse um "Eu te amo" em resposta. Eu achava que o amor era simples. Que ela já me amava por ter me beijado, mas não amou. Porque eu tirei a graça de tudo. Tirei o prazer dela em me conquistar. Garanto a vocês que Rose só amou Jack porque deu muito trabalho a história dos dois. Todos os romances de novelas só são romances porque são dificeis. Se fosse fácil, não chamariamos de amor, chamaríamos de tédio. Tivemos um longo ano com encontros as escondias, noites abraçados e beijos sem amor, pelo menos da parte dela, e eu eu sofria como uma criança ao descobrir que duendes não existem em cada "Eu não te amo. Então me esqueça!" dito por ela, dito após cada beijo. Envelhecemos, ela se mudou, e como era de se esperar, a obedeci.

Depois veio Beltrana. Ah Beltrana! Linda e de um sorriso maravilhoso. Beltrana me passava vida! Como todos os beijos haviam perdido a graça depois do meu primeiro conto de amor, fiquei com medo de beija-la. Mas ao beija, já sabia que amava, ao invés de soltar o quanto a amava sorri como se dissesse "Nem te quero tanto assim". E ela me amou, e eu pude ama-la ainda mais. Namoramos, fizemos planos, inventamos apelidos, e eu mês a mês, fui criando uma confiança a ponto de dizer eu te amo como se dissesse um "Bom dia". Quando já havia se passado muito tempo ela chegou sem graça com as palavras presas entre os dentes, como se a língua não fosse dela, como se a voz já não mais existisse e disse que não mais me amava. Era impossível pegar de volta tudo que eu havia lhe entregado. Todos sorrisos em dias festivos, todo o amor, todos os abraços e promessas estúpidas. Ela foi embora levando parte de mim. Hoje dou um sorriso quando me lembro dela. Apenas isso.

Por fim conheci Ciclana. Ah Ciclana! Me deixou noites ansioso por seu beijo. Ela tinha aquele ar inocente, mas que sabia provocar. Ela era bem mais nova que eu, mas parecia possuir um maior controle de tudo. Ela tinha um abraço tão bom que eu poderia jurar que o céu era abraçar ela. Nossos diálogos era tão intensos, que poderiam virar filmes. Cada conversa. Mas antes de nos acostumarmos com os apelidos, antes de nos acostumarmos com o anel no dedo, antes de decorarmos as datas comemorativas, ela disse as temidas palavras "te amo".

E ai, quem já não achava mais graça, era eu.

E se o começo me deixou ansioso, o momento me deixou feliz e o fim me deixou partido, o hoje me deixa ainda mais sorridente.
Porque se Fulana não partisse, nunca teria conhecido Beltrana, e se Beltrana também não tivesse ido, nunca viveria minha história com Ciclana. E saber que em algum ponto de ônibus ou em alguma festa chata, alguém (ainda) sem nome e sem rosto, me espera pra ouvir meu "Eu te amo", é tão confortante como comer bombons pra esperar pela merenda. (Vinícius D'Ávila)