Friday, April 09, 2010

O Menino que Roubava Corações


Ele procurava algo que tampasse os buracos. Algo que ele não podia ver, mas que ele sentia e que o atrapalhava sentir o gosto ou ver todas as cores que normalmente todos viam. Era difícil procurar algo, quando não sabemos exatamente o que queremos. Antes que o condenem, entendam que ele nunca fez nada por maldade. Sem nem ao mesmo pedir foram lhe dados corações. E quem uma vez é rei nunca quer perder majestade.

Então resolveu passar a vida colecionando corações. A dúvida da distância entre se a menina iria realmente lhe entregar e se seu sorriso estava mesmo ainda surgindo efeito lhe dava poucos segundos de felicidade. Mas todas acabavam lhe entregando. Todas. E aquele coração que inicialmente parecia ser essencial para a sua sobrevivência, começava a queimar e sufocar.

De longe ele viu duas amigas se aproximando. Não queria causa mal a nenhuma das duas, mas achava que talvez elas teriam a cura para aqueles anos de solidão.

E como de costume fez algumas piadas, olhou dentro dos olhos, e uma delas começou a retirar ainda pulsante, ainda vermelho, aquele que agora já não era mais dela. A amiga assustada correu em direção contrária e ela ficou parada ali como se a felicidade dela, por aquele momento, fosse maior que a dele.

O problema de se entregar demais, é que nunca saberemos ao certo em quantos pedaços nosso coração suportará ser partido.

Mesmo sem saber se era seu último pedaço. Ela lhe entregou. E não esperou nada em troca. Não gritou palavras grosseiras quando ele anunciou que iria embora, não tentou arrancar o dele a força, não chorou para não quebrar o encanto. Sorriu.

E foi isso que a tornou diferente das outras meninas sem corações. O não esperar dele nada de volta. Definitivamente ele nunca daria seu coração a ela. Mas ela nunca questionou isso. Deu-lhe um beijo no rosto e correu em direção a casa para que houvesse tempo para sua despedida. Ela na sua imensa sabedoria possui duas verdades. Não havia nada para ela receber. E realmente era seu último pedaço. Seu único e último pedaço.

Depois de amá-las miseráveis segundos. Ele as odiava.

Ele sempre odiou quem amava em 15 minutos. Mas odiava ainda mais os que não sabiam amar.

Meu Deus, e quem sabe? (Vinícius D'Ávila)