Tuesday, April 20, 2010
Romeu e Julieta Com Prazo de Validade
E achou graça o convite do Romeu em ir ao teatro. Fez graça com a cara dele antes de aceitar definitivamente. Ela sempre odiou convites de desconhecidos. Foi a primeira vez que pensou em desistir. Desistir de conhecê-lo. Não gostava de perder tempo. E ela só realmente aceitou, não porque queria ser a companhia dele, mas porque queria saber o quão constrangedor seria Romeu se apresentando.
Sentou-se na fileira do meio e mesmo sem muitas expectativas conseguiu rir das primeiras piadas. E antes do fim concluiu que ter ido ver Romeu não era tão constrangedor assim. Era amargamente prazeroso. Mas pra ela, o teatro, bastava! Antes dele chegar até ela, ela já havia pensado numa desculpa para poder ir embora. E foi. Foi a segunda vez que pensou em desistir. Desistir de estar com ele. Mas enquanto ela ainda ia embora, sentiu vergonha da desculpa tão mal elaborada, e do sorriso triste dado por Romeu ao ouvir tais palavras. Não que ela se importasse com Romeu, mas ela queria ver se ele era igualmente engraçado fora dos palcos.
Se beijaram, e descobriam que a mao dos dois tinha um encaixe perfeito, mas não se apaixonaram. Julieta de longe já sabia que Romeu não era o tipo de homem que ela namoraria.
- Eu sempre digo não.
- Pra quem?
- Pra todos!
- Mas por que isso?
- Não gosto de perder tempo.
- Então por que disse sim para mim?
- Porque cansei de perder tempo.
E se passaram alguns dias bons. Ela adorava toda a atenção, nunca recebida antes, disponibilizada por ele. Ele adora quando ela colocava os dedos na frente do rosto pra esconder a risada.
- Eu gosto de você.
- Eu também, mas não sou o tipo de homem que você namoraria. Eu sei. Você disse.
- É.
- ...
- Mas foda-se! Não preciso de um namorado na minha vida. Não agora. Precisava de alguém assim, como você.
Ele gostava tanto dela. Tanto que não a queria pra ele, a queria bem. Apenas isso. Era isso que o fazia sentir alegre. Talvez na verdade, era uma tristeza disfarçada com dois goles de cerveja, mas que ele preferia (ainda) chamar de alegria.
E ela gostava dele porque ele possuia todos os defeitos que ela não tinha. Paciencia, tolerancia e saber perdoar. Suas 3 maiores qualidades e simultaneamente, seus 3 maiores defeitos.
O maior medo deles não era se matarem no fim. Era se odiarem.
Certo dia quando ele a acompanhava para casa ela pensou em sumir. Desistir dele. Antes que se matassem. Mas não teve coragem.
Só que quem desistiu, foi ele. Se é que existia alguma coisa pra desistir. Desistiu por ela. Ele escolheu se tornar uma boa lembrança do que uma pedra no sapato.
Ela venceu. Se é que existia alguma vitória pra comemorar ou prazo certo de validade.
- E o que eu te trouxe?
- Como assim?
- Você disse que todas pessoas, as principais, quando entram na nossas vidas são pra trazer algo.
- Sim.
- Então? O que eu te trouxe?
- Dias bons. Havia tempos que eu não tinha dias assim.
Mas eles foram felizes.
Felizes por alguns dias.
Juntos.
Separados, foram para sempre.
(Vinícius D'Ávila)