Sunday, May 09, 2010

A Lenda do Príncipe Aventureiro




E como uma dorzinha de dente que vai e volta durante a noite te impedindo de dormir, doía seu coração com dores que iam e vinham o impedido de viver. Foram várias decepções que o tornaram assim. Perde-se o amor, ganha-se coragem. E de tanta coragem lhe apelidaram de Príncipe Aventureiro.

As cores do mundo haviam perdido a intensidade. Ele já não sentia ciúmes, nem criava expectativas. Sabia que sua decepção seria proporcional a sua expectativa. E assim, se livrava de novas histórias sem dor. Mas precisava delas para se diferenciar dos mortos. Para lembrar pra ele mesmo que ainda não havia morrido. Estava feliz, mas era uma felicidade diferente.

Não o usava mais as palavras "te amo". Nem “sempre” e nem “intenso” . Trocou todas elas por um fraco "gosto de você". E as vezes, bem as vezes, acompanhada de um “muito”. Mas o "nunca", se tornou parte dele

Certo dia ao folhear o jornal do reino ficou admirado com um desenho de uma princesa. Em um reino muito, muito, muito distante, morava uma princesa que poderia estremecer seu coração. Porque se só de olhar para a foto já havia perdido os sentidos.

Escreveu cartas para a Princesa distante. Lua. Igualmente distante. E a Princesa Lua respondia pacientemente todas as cartas enviadas pelo príncipe. Algumas demorava um pouco mais, outras saiam frias, mas respondia todas. E no final de cada lembrava que já estava prometida a um casamento, e o melhor, amava o seu prometido. Só que como ela e o prometido moravam distantes e ela esperava pacientemente de longe o dia do casamento.

E depois de algumas cartas trocadas, pediu permissão da princesa para ir conhecê-la. Não queria roubar o lugar do prometido, só queria ver se os olhos dela os encantavam na mesma proporção vistos de perto. Todo mundo é bonito visto em quadros, sem defeitos, numa moldura perfeita e tintas bem escolhidas. Mas se aquela princesa estremecesse igualmente seu coroação teria valido a pena cada quilômetro percorrido.

Eles estavam em lados opostos da vida. Um abismo. O mais distante que um ser poderia estar do outro. Não digo de locais, digo de idéias. Enquanto ela, indubitavelmente, acreditava e esperava a chegada de seu amor, ele só queria um bonito sorriso, porque já não acreditava mais nada.

Então, subiu em seu cavalo e viajou dias, semanas, uns dizem que até meses, mas chegou. E ela era sim, mais bonita que nos quadros. Os quadros não retratavam o cheiro bom dela, nem quão macios eram os seus cabelos.

Desceu do cavalo e se aproximou em passos lentos.

Ela o estendeu a mão e fechou os olhos, enquanto ele a beijou.

Sentiu o sangue percorrer novamente o corpo. Os dois.

Ela abriu os olhos e como sem ter certeza do que ia dizer disse:

- É só isso que eu posso te dar.

E ele respondeu:

- Mas foi só isso que eu vim buscar.

Virou-se, montou no cavalo e iniciou sua viagem de volta ao reino.

Se ele parar, eu peço mais um beijo – Pensou ela enquanto o via se afastar na paisagem.

Se ela me pedir mais um beijo, eu paro – Pensou ele enquanto o cheiro dela ia se tornando cada vez mais distante.

Já não havia um abismo entre os dois. Mas continuaram para sempre distantes.

Não é que ele não acreditava no amor. Ele só não acreditava mais nas pessoas.

(Vinícius D'Ávila)