Wednesday, June 16, 2010

Três Hipoteses



"Foge que eu te encontro, eu já tenho asas" (Marcelo Camelo)

Eu andava sempre pelos mesmo lugares, e achava graça encontra - lá sempre e tanto. Tudo bem que nossa cidade não era grande suficiente para se perder e se desencontrar. Mas ela esta lá, nas festas em que não tinha idade para entrar, na academia me motivando a voltar sempre lá, nos pontos de ônibus esperando sei lá qual e nas ruas do centro em dias festivos. Haviam amigos meus que eu não via com a mesma freqüência, mesmo combinando, mas ela não. Era como se combinássemos onde iríamos sem avisar.

E cada vez que eu a encontrava acidentalmente eu a desejava mais. E inventava uma desculpa para puxar um assunto ou descobrir seu nome. Não tínhamos amigos em comum, não nascemos na mesma cidade, e nem tínhamos o mesmo gosto pra música, mas ainda sim eu procurava sempre um assunto que pudéssemos desenvolver. Linda. Absolutamente linda. E uma gentileza que a tornava mais linda ainda. Eu não conheço muitas pessoas gentis.

E um dia quando amanheci com vontade de beber, porque raramente eu consigo beber, te encontrei naquela nova velha boite. Bebi caipirinha, cerveja e vodka. Enlouqueci. De um dado momento da festa, as lembranças são apenas flashes. E por estar incrivelmente bêbado, eu dancei mais, sorri mais, cansei mais. Até que sentei em um dos cantos e dormi.

Lembro-me de você me acordando com piadas e me imitando como eu estava dormindo. Ri de mim mesmo e de como era linda mesmo me imitando. Conversamos sobre alguns assuntos que não me recordo, e não me lembro se isso durou poucos ou muitos minutos, mas me lembro que criei coragem e me declarei. Disse como era absurdamente linda e de como eu tremia quando ficava perto dela. De como a vida dela parecia interessante perto da minha sem emoção, e de como eu a desejava. Ela sorriu e disse que me beijaria naquele momento, mas teria que ir embora porque as amigas dela a esperavam na porta. Mas iríamos nos esbarrar tantas vezes para terminar aquela conversa. Que se fosse bom, continuássemos.

Acordei no outro dia com fortes dores de cabeça e com a dúvida se o que eu vivi foi verdade ou sonho. Não conseguia perfeitamente diferenciar. Liguei para um dos meus amigos se ele havia visto algo, ou conversando com alguém que eu lhe descrevia e ele disse que não, mas ele disse que sumi um tempo na festa e quando voltei, voltei feliz e dizendo como era bom estar ali. E só.

E nos dias seguintes ela desapareceu. Não nos encontramos mais. Peguei todas minhas economias e fui em todas as festas dos últimos fins de semana e ela não estava em nenhuma delas. Peguei alguns ônibus errado, entrei em alguma loja que parecia vender roupas que ela gostava de usar, mas não a encontrei. Como se ela tivesse desaparecido. Ninguém sabia de nada. E logo você que eu via sempre, nunca mais vi.

E criei hipoteticamente três histórias para mim naquele dia.

A primeira era que você estivesse realmente bêbada como eu, e só concordou com tudo que eu dizia porque assim estava.

A segunda era que você não concordou com nada. Que dentro de mim todos os “não daria certo” ditos por você se transformassem em meus ouvidos por um meloso “adoraria”. Como se eu fosse idiota suficiente só para escutar as palavras que eu gostaria de ouvir.

A terceira e a mais cruel é a de que você nunca tenha existido. Minha carência por pessoas gentis fez criar você. Minha necessidade de uma história feliz, fez criar nossas conversas. E quando realizou aquilo pelo qual havia sido criada. Sumiu.

E eu que já tive tantas histórias, queria tanto viver a sua.

(Vinícius D'Ávila)