Sunday, July 04, 2010

Carnaval


A festa do ano menos representativa em sua vida era o Carnaval. No natal ele sempre ganhava presentes, em junho dançava quadrilha, mas no carnaval ele nada mais fazia além de ir pro sitio esperar a semana passar. Tudo que ele conhecia sobre samba, era o que via todos os anos pela TV, nos desfiles das escolas do Rio.

Não era por falta de planos. Pelo contrário. Era apenas falta de sorte. Quando já não era mais novo para viajar, quebrou o pé, arrumou um emprego ou começou a namorar. E só restava ver passar já que estava na condição de nascido em uma cidade que o carnaval não se celebrava.

Naquele ano seria diferente. Arrumou sua mala, arrumou sua melhor amiga, arrumou seus planos e viajou pra terra onde as pessoas não dormiam e não se entristeciam.

Dormia pouco. Saia de casa minutos depois do almoço e voltava quando já iam retirar o café. Beijou bocas desconhecidas, bebeu até neutralizar a dor nas pernas de tanto permanecer em pé, cantou as músicas que não conhecia, se perdeu. Não porque não sabia voltar, mas porque não queria voltar. Nada significativo.

Conheceu ainda nos primeiros dias uma menina parecida consigo. A encontrava sempre nos fins das tardes e caminhava com ela quando amanhecia. Mas como disse, nada significativo. Hora ou outra esbarrava com ela correndo de mãos dadas com outros da mesma forma que com ele fazia. Era Carnaval.

Na última noite, poucas horas antes de ir embora, quando achava que já havia escutado as melhores músicas, conheceu aquela última garota. Ele teve a certeza naqueles segundos que por mais que o carnaval durasse dez dias aquela seria a última que ele conheceria. Ela estava tímida em um canto de uma das ruas tentando conversar com um grupo de pessoas e pensou em algo para chegar e dizer. Não queria chegar e beija-lá como fez outras vezes, queria saber o nome dela e ficar por perto até amanhecer. O problema era que ao se aproximar não se sentia bem. Ia e voltava sempre para perguntar para amiga o que fazer.

Não teve coragem de perguntar o nome. Sorriu como se a conhecesse e recebeu um sorriso de volta. Mas foi só. Foi em direção as meninas que inicialmente conversavam com ela e conseguiu o seu nome. Quando novamente se aproximou com a esperança de que no minimo ganhasse um novo sorriso, a viu sendo puxada por outros amigos que passavam.

Ao lembrar do sorriso que iria embora, a segurou pelo braço e pediu pra que esperasse, pois precisava dizer algumas coisas antes dela ir. Ela sorriu ainda mais e disse que voltava.

Pegou o telefone com as mesmas que pegou o nome, sem esperança pra que o acaso os fizessem reencontrar. Mas ela não atendeu.

Esperou até o ultimo segundo, mas ela não voltou. Ainda na porta do ônibus tentou ligar mais uma vez. Se ela atendesse deixaria as malas irem embora e iria de encontro a ela. Desejou que o carnaval durasse até a sexta. Mas o carnaval não durou.

Sentiu o dia amanhecendo e pela janela do ônibus a procurava em multidões.

O engraçado disso tudo foi que ela ligou dias depois para saber quem era, e explicou que apesar de não ter voltado pensou nele o caminho todo de volta pra casa. Ela não acreditou que ele iria esperar.

Conversaram meses por telefone e mandaram algumas cartas, mas nunca se encontraram.

Essa história desse herói sem vilão não teve sacrifícios por amor, beijos longos, princesas mortas, nem corações roubados. Eles não foram torturados, nem poderiam ter sidos.

Achava que as melhores histórias de amor, que para ser realmente de amor, deveriam ter beijos interminaveis, presentes dos dias 12, músicas temas e muitos, muitos dias lado a lado. Mas não. Para ser história de amor só precisava de uma exigência. De amor.

Ele não perdeu a capacidade de amar porque era carnaval, mas desaprendeu a amar por nunca mais a ter encontrado. Ou não.

Talvez até se reencontraram ou amaram novamente, mas já não mais era carnaval.

(Vinícius D'Ávila)