Sunday, September 05, 2010

Das Melhores Promessas Que Fizemos


Se nada der certo nos casamos. Foi esse o nosso combinado. Foi mais por carência de momento que fizemos essa promessa do que desejo de que isso se concretizasse. Acredito que tínhamos medo de que morrêssemos sozinhos e prometemos um ao outro por ter também o mesmo medo. E eu achava que com o passar dos anos nos esqueceríamos da promessa, mas pior do que isso, nos esquecemos um do outro. Começou com ligações prometidas não realizadas até acabar com as visitas nos natais.
Então como uma onda que traz tudo que um dia leva, te encontrei naquela nova estação de metrô. Eu sempre achei o metrô um lugar perfeito para as pessoas se apaixonarem. Elas são obrigadas a ficarem frente a frente com rostos desconhecidos em dias cansados, e creio eu que no fim do dia, devido a todo desgastante suor e horas vividas, estamos mais propícios a nos apaixonar. E estávamos lá, nós dois no metrô procurando na língua enrolada as primeiras palavras que diríamos a alguém que não víamos a tanto tempo.
Saudades. Era o obvio. Não tão obvio, pois se fosse tão latente não permitíramos que a comodidade nos deixasse afastar. Mas havia saudade dentro do peito da época em que éramos íntimos suficientes para fazermos promessas e quebrá-las sem culpa. Em que beijávamos para nos despedir sem precisarmos combinarmos novamente para nos encontrarmos. Sentamos para fazer o passado se tornar presente, mesmo que fosse apenas por alguns minutos e fumamos para provar que ainda éramos os mesmos. Na verdade nunca gostei muito de fumar, mas acendia um novo assim que o velho se apagava só para sentir os segundos em que te passava o cigarro e tocava os seus dedos. Se eu pudesse te beijar, beijaria, ali e naquela hora, mas estava enganado, já não éramos mais os mesmos. Não tinha coragem de perguntar se lembrava da antiga promessa, então te perguntei sobre a vida. E enquanto você falava e ajeitava os cabelos eu percebia o quanto realmente eu gostava de você. E não era novo, era desde aquela época. Talvez não fosse um amor avassalador suficiente para de fato namorarmos, mas me fez pensar como teriam sido diferentes todas as tardes que passei sozinho escolhendo o que iria jantar e como seria mais divertido você comigo assistindo um bom filme seguido das nossas saudosas discussões sobre como deveria ter sido o fim. Não seria por falta de opção, era muito mais do que isso, era a prova de que enquanto alguns amores nos enlouqueciam e aprisionavam outros beijos de tão vazios nos esvaziavam, já eu e você nos completávamos de uma maneira que poderíamos dizer sermos perfeitos um para o outro, sem exceção.
Agora estávamos ali. Vinte anos mais velhos e com o olhar mais cansado e as brincadeiras mais sérias, mas você ainda empurrava minha mão quando eu fazia piadas idiotas. Falamos sobre nossas profissões, divórcios, filhos e até sobre quem votar para presidente, mas não falamos sobre nós.
Foi quando você levantou rapidamente e disse que estava atrasada para um compromisso e fez toda a felicidade que eu sentia de ter te encontrado desmanchar como castelos de areia.
- Eu ainda me lembro da nossa promessa. – disse no lugar de dizer um simples tchau.
- Qual promessa? – perguntou procurando o celular na bolsa.
- Esquece. Não vou te atrasar mais.
- Não me atrasou. Eu me lembro, só fiquei constrangida de me lembrar de algo assim. Não deu certo para você?
- De verdade te digo que não sei. Tenho essa dificuldade de descobrir o que é dar certo. E para você? Deu?
- Sim. Várias vezes. Mas sem a eternidade que eu planejava. Mas acredito que de verdade, verdade mesmo, começou a dar certo agora.
E foi assim que prometi que a faria feliz. Porque éramos bons em cumprir promessas.
(Vinícius D'Ávila)