Friday, September 24, 2010

O Dia em Que as Estrelas Não Couberam no Céu



Acordou e já havia anoitecido, então como era de costume correu e olhou para o céu. Ficou observando sua estrela favorita com seu brilho refletido em seus olhinhos trêmulos. A varanda de sua casa se tornava um posto de observação todas as noites de sexta. É que de fato, sábado era o único dia que ele não precisava acordar cedo, então ele deitava no chão ao som de Paloma Faith comendo chocolate meio amargo e olhando para o céu. Ate que sentisse sono, ai acendia um cigarro para o sono passar.
Olhava não porque estava apaixonado por ela, mas porque ela era bonita de se olhar, e essa era uma das duas coisas que o faziam pensar excessivamente na vida, a outra era sofrer.
E pensava em como o tempo havia passado e o cigarro de conveniência havia se tornado num vício. E como alguém tão cheio de amores, há muito tempo não gostava de ninguém. Ele estava longe de se tornar novamente o namorado que foi, de escrever poesias românticas e achar lindo o dormir junto e acordar junto. Sentia saudade, mas não conseguia mudar isso.
Certo dia em que sua mãe já havia apagado a luz de toda casa e os cigarros já não mais tiravam seu sono a estrela falou com ele:
- Por que olha tanto para mim?
Ainda incrédulo, respondeu como se fosse comum conversar com estrelas:
- Porque brilho de volta toda vez que brilha para mim. Me sinto só. E eu não tenho a certeza da companhia sempre presente de ninguém, a não ser a sua. Eu me enjôo fácil de tudo, então aproveito da distância que temos que não me permitir enjoar.
Brilhou um pouco mais porque entendeu que aquilo era só um sentimento de solidão.
- Eu só vim pedir para que parasse de me olhar.
- Mas por que me pede isso? Lhe causo algum mal?
- Não é isso. É que eu nunca poderia de fato descer ai para te ver e os outros astros poderiam se enfurecer por não compreender porque olha só para mim.
- Mas eu nunca te olhei esperando que olhasse para mim, mas se incomodo tanto peço para que vá para onde não posso te encontrar. Há tantas outras pessoas para todos os outros astros que seria ridículo vê-los enfurecer só porque eu olho para você.
- Bom. Eu só vim para pedir isso e para dizer que eu não voltarei a falar contigo. Não é comum conversarmos com humanos.
- Tudo bem. Nunca esperei essa visita. Não irei esperar por outras. Acho que acostumei a ficar sozinho.
- Ainda se eu pudesse fazer algo...
E acordou com a brasa do cigarro alcançando seus dedos e riu de si mesmo ao se imaginar conversando com estrelas. Percebeu que estava passando muito tempo sozinho e se distraiu ao se levantar com uma estrela que riscava o céu.
Fechou os olhos e fez um pedido.
Desejou um amor. Andar vazio já não dava mais.
Desejou um amor mesmo que fosse para sofrer.
E naquela noite, como se ainda fosse sonho, lembrou de sua amiga estrela, que não podia lhe visitar, mas pode se tornar pedido.
E naquela noite o céu dormiu faltando uma estrela. (Vinícius D'Ávila)