Friday, September 03, 2010

O Quereres

"Onde não queres nada, nada falta" (Maria Bethânia)

Dos seus dedos quase já sem unhas como uma cicatriz de tanto esperar e esperar e esperar por uma história que fosse realmente sua. Queria algo que mudasse a sua vida, amor em doses cavalescas para que pudesse dizer que viveu quando era jovem. Estava cansado de porções homeopáticas de felicidade, que nunca completariam sua alma. Procurou porque a queria.

Foi num pub novo da cidade que a viu pela primeira vez. Sentada ao lado em uma mesa com outros amigos ela nem reparava que ele estava ali, mas ele não conseguiu tirar os olhos dela. Observou todos os pedidos ao garçom, porque assim talvez, descobriria os seus gostos favoritos, já que não tinha coragem suficiente para levantar e descobrir o seu nome. Observou porque a queria.

Lembrava-se do rosto. E uma certeza havia, já havia visto uma foto em um dos álbuns de um amigo. E fez o que deveria ser feito. Sentou com o amigo, descreveu a garota sem nome e em milhares de fotos procurou uma a uma até realmente encontrar. Coletou todas as informações possíveis e necessárias e agradeceu. Agradeceu porque a queria.

Nessa parte a história deu um salto. Não se sabe se foi novamente ao acaso ou o amigo fez o acaso acontecer, o que se sabe é que eles se conheceram, se amaram e namoraram. Mas era um amor que de tão amor não permitia comparações poéticas de azul com céu e amarelo com sol. Um amor que não aceitava rimas pobres. Era preciso dizer que as estrelas se inveteram no céu para fazer uma constelação só para eles e que o sol passou a se pôr mais lentamente para acompanhar por mais tempo o romance dos dois.

Era bonito e dizer só isso basta. Era bonito porque os dois queriam que fosse.

Mas como um dia as tardes de férias, por melhor que elas sejam, acabou o romance.

Ele sentia que não era a mesma coisa e pediu pra que ficasse só. E foi a vez dela ir atrás dele. Ele a quis até ela o querer. Depois já não havia mais graça.

Ela escreveu cartas e mudou a cor dos olhos de tantas lágrimas, mas tudo isso era em vão. Ele parecia não querer mais. Ela tentou até o amor virar desespero, e até o desespero virar aceitação. E foi ai que ela já não queria mais.

Esse é o ponto central da história. Apesar dele ter terminado com ela meses antes, foi nesse momento que ela terminou com ele. Ele nunca havia chorado pelo fim, pois ele nunca havia perdido. Novamente a quis, mas ela já não o queria mais.

Pagou o preço por confundir estabilidade com monotonia. Reatar um amor é como querer pegar uma blusa velha e lavar esperando que se tornasse nova.

Viveram momentos conturbados. Brigavam e em seguida transavam, mas não se despediam com beijos. Mandavam cartas saudosista, mas não se parabenizavam nos aniversários de namoro. Eram escravos do próprio amor. Queria porque queria evitar o fim.

Não precisavam jogar o romance no lixo, mas o que ele não entendia é que sua resistência em aceitar o término, prorrogaria apenas a dor, e não o fim.

Talvez porque já não era mais só amor, era a dificuldade em saber perder.

(Vinícius D'Ávila)