Monday, November 08, 2010

Dentes separados sem nenhuma explicação


Ainda que me quisesse só por brincadeira, te desejava como um verão quente pra quem viveu só de pesados invernos. Pois quando te conheci, mesmo que apenas só por fotografias, te desejei mesmo que fosse para sermos um do outro só por alguns dias. Talvez se eu alimentasse aquele sentimento, como eu alimentava meu vicio por séries americanas, não teria demorado tantos dias para ir e falar com você. Mas a verdade foi que demorei tempo demais. Um demais suficiente para que sua resposta fosse que já namorava e não poderia se envolver mais.
Mas nada impediu que fosse sorridente e nada me impediria de acompanhar a sua vida, mesmo que por fotografias como capítulos silenciosos de uma novela que não queríamos exatamente assistir.
E dentro de mim eu percebi que não era amor, porque não chorei nem por um dia por todo romance que não concretizado. Talvez dentro de mim houvesse uma certeza que surgiria em minha frente novamente e me diria falsas verdades e me faria feliz. Pois eu sempre te dizia como era bom te ver, como quem dissesse por favor, não me esqueça.
Talvez não foi amor porque de fato não nos beijamos. Não sei.
E um dia me procurou, só que dessa vez quem vivia um amor era eu.
E nos próximos três anos, desencontramos outras mais sucessivas vezes, como o calor depois do primeiro dia de inverno.
Terminei meu namoro, mas você havia mudado de cidade.
Você voltou e eu já estava namorando novamente.
Terminei e agora quem namorava era você.
E por fim terminou, mas eu já havia ido embora. E pra longe.
E de fato os amores não concretizados não são os mais dolorosos, mas são os mais agonizantes. Porque você nunca saberá o motivo por qual meus dentes do meio são separados, que foi num dia preguiçoso que guardei meu aparelho no bolso, quebrou, e nunca retornei para consertar. E nunca saberá que prefiro manteiga a margarina, mas parei de comer desde que meu professor disse que aumentariam minhas chances de ter problemas do coração. E nunca saberá que meu apelido surgiu numa brincadeira de terceiro ano, e apesar de ter me seguido na faculdade, sumiu com o fim dela. E nem posso te condenar por ter passado o último dia dos namorados abraçando o vento, pois fizemos nossa história se resumirem em promessas e nada mais além disso.
Lembro-me que era fevereiro demorado quando conversamos pela última vez. Fizemos umas piadas bobas da dúvida do beijo que nunca de fato demos e que no fim do ano eu estaria de volta, e que o fim do ano estava quase ali, apesar de ainda ser fevereiro.
E quando de fato retornei descobri que estava com outro, mas não era somente isso, descobri que estava casando. Vesti meu terno mais bonito e fui ao seu encontro, não que era prazeroso te perder definitivamente, mas é que eu sempre quis te ver de branco e eu precisava te ouvir dizendo aquele sim.
Pode parecer prepotência, mas eu vi seus olhos seguindo os meus, eu vi seu sorriso tremulo quando teve a certeza que eu estava ali. Ouvi seus pensamentos nos segundos em que ficou em silêncio antes de dizer o sim.
O que sentíamos não era nenhum amor avassalador que nos fizesse largar tudo em busca um do outro, mas não era um sentimento efêmero que sumisse com o tempo. Ainda que eu não soubesse falar de amor.
Quando eu pegava meu caminho pra ir embora já satisfeito com as lembranças que levava comigo de que nunca seria de fato minha, você gritou por mim.
- Esqueceu de levar uma lembrança. – disse ao me entregar um de seus bombons.
Eu agradeci em forma de sorriso, pois na verdade eu não achava que deveria agradecer. Preferi acreditar que se despedir de perto. Então por isso simplesmente sorri equanto já abria seu bombom, porque definitivamente eu não sabia o que fazer com minhas mãos enquanto olhava para você.
Virei de costas e comecei a caminhar, quando me peguei de surpresa com um papel escrito enrolado no bombom.
Foi bom te ver
E no fim da história. Você foi a única que eu nunca tive, mas de fato foi quem eu nunca perdi.
(Vinícius D'Ávila)