Friday, March 25, 2011

Amaldiçoado a morrer sozinho


"Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro." (Rubem Alves)

Além de mim, ainda haviam duas meninas sentadas esperando serem chamadas para dançar quando você entrou pela porta. E em toda minha vida eu nunca havia me sentido tão agoniada por estar sentada. Mas sinceramente, nenhum dos rapazes que chegou antes de você me despertaram interesse. Não naquele momento. Eu estava numa fase de vida extremista. Ou dançasse perfeitamente a ponto de sentir meus pés saírem do chão ou nem levantaria da cadeira.

E com os segundos que você se aproximava eu tentava descobrir se eu era realmente interessante para que escolhesse a mim.

E você me chamou.

Durante toda dança eu acreditei ter sido escolhida por já não ter muitas opções e não por realmente ter despertado seu desejo. Eu não prestei atenção na música que dançávamos e nem percebi se meus pés permaneceram todo o tempo no chão .

E saímos dali para nos beijarmos em privacidade e trocarmos confissões de bons momentos. E sorri. Não que eu depositasse em você a responsabilidade de me fazer feliz, mas eu depositei a responsabilidade em mim de fazer com que tudo desse certo. Mas não deu.

Você me disse que todas as pessoas por quais se interessava partiam logo após conhece-las. Uma espécie de maldição para morrer sozinho. E eu sorri porque comigo não seria diferente. Lembrei da passagem compradas, das malas já arrumadas, de toda distância que eu estaria no dia seguinte. Eu até tentei te dizer que poderíamos esperar de longe, que a páscoa estava ali. Eu tentei ser engraçado, ser interessante e dizer que a distancia hoje em dia era tolerável, mas você não disse nada em resposta, então resolvi te beijar e esperar amanhecer.

Eu fui embora em direção ao ônibus feliz por ter me chamado para dançar e ao mesmo tempo confuso se me incluía nas pessoas que se interessou antes de partir.

Sabe o que eu conclui sem muita certeza? Que não era as pessoas que você gostavam que partiam. Você gostava delas porque elas iriam partir. Talvez por medo de se relacionar.

Sabe o que eu conclui com muita certeza? Que eu já gostava de você.

E cada vez que o ônibus ia se distanciando eu ia imaginando que a qualquer momento eu já “não estaria mais na sua”. E pela segunda vez senti novamente agoniada por esta simplesmente sentada. E você me esqueceu, provando que era eu e não você, amaldiçoado a morrer sozinho. (Vinícius D'Ávila)