Friday, March 25, 2011

Quando foi mesmo que acabou?





Quando foi mesmo que acabou?

O que?

A gente.

A gente quem?

Eu. Você. Nós. Todos.

Acho que você não está bem hoje. Nós quem?

Nós. Quando foi que deixamos de nos ver todo dia? Passei o dia tentando lembrar quando foi que saímos todos juntos. Todos, sem faltar nenhum, e não lembrei, assim como não lembrei quando foi que nos tornamos velhos demais para aquela praça ou interessantes demais para nos mantermos juntos. Não me lembro quando o amor já não era mais o bastante, mas pra ser ainda mais sincero, não me lembro até que dia houve amor. Eu pensei que nunca perderiam graças nossas bricandeiras, que todas aquelas briguinhas fossem passageiras, que os amores que não deram certo fossem simplesmente deixado de lado, mas não. Cada um foi construindo ao lado uma nova história que cresceu de uma certa forma que não sobrou espaço pra dividirmos uns com os outros. E eu tentei por tudo entender que a vida é feita de fases, mas eu não entendo quando começamos a nos desprender e deixarmos de sermos paródia de um seriado americano sem final feliz. Sem final.

Eu só queria saber se mais alguém dali se sentia como eu ou eu era único a sempre sentir e sentir e mais uma vez sentir. Sentir muito.

Só queria que soubessem que vocês foram embora com partes de mim. Não que eu não consiga continuar sem essas partes, mas é doloroso toda vez olhar e perceber que está faltando elas.

Queria de novo te encontrar ao acaso na fila do banco e ouvir falar de você me fazer perceber o quanto se assemelha a mim. Queria segurar sua mão para voltar para casa, como se nos protegêssemos ao fazer isso e encurtássemos o caminho. Queria pegar um ônibus e ir te visitar para juntos contarmos moedas para as bebidas. Queria te ver chorar, não que isso me faça bem, mas é que sei que continua chorando daí de longe e eu também, queria que novamente chorássemos perto. Queria te beijar escondido no banheiro e nunca saber se me beijaria de novo. Queria estar novamente com você, você e você também.

Ok! Não moramos mais tão perto, mas ainda estamos aqui.

E o engraçado é que tentar juntar todos é segurar areia nas mãos e vê-la escapando entre os dedos. E quanto mais apertasse, mais perderia. E vocês agora são esses grãos que vejo escapando.

Uma vez um amigo disse que maturidade se media pelo número de amigos. Pessoas mais velhas reduziam suas amizades a poucos contatos. Desde então nunca achei tão interessante envelhecer. Enquanto a maioria das pessoas tinham medo da velhice por causa da morte eu tinha por causa da solidão.

Foi então que decidi reunir todos no mesmo lugar para mais uma vez sentir que eu não estava sozinho.

Só que reunir todos era constatar que já não éramos mais os mesmos, era esfregar na cara que nada mais era igual e nunca mais seria.

Reunir todos era abrir a mão e perceber, defintivamente, que o mar já havia levado tudo. (Vinícius D'Ávila)