Tuesday, May 17, 2011

Como fazer com que me amasse?

"Ontem tomei um táxi e me distraí tanto olhando pela janela que no meio do caminho estendi a mão para o banco vazio do lado querendo pegar tua mão. Tô com saudade." (Caio Fernando Abreu)

Quando te vi eu não sabia exatamente quem você era, e talvez tenha demorado três dias para entender que o que você causava em mim não era apenas excitação.

No fundo, não me importava saber seu nome, não que eu não quisesse saber, mas é que sabendo ou não seu nome eu já gostava de você. O problema é que eu não sabia o que fazer para que gostasse de mim.

Segui-te com os olhos na esperança de que os teus cruzassem os meus, mas estávamos em pontos distantes demais para que reparasse em mim, entretanto perto o bastante para entrar em sua vida. E entrei.

Foi então que eu tive a idéia de fazer com que tudo desse certo. Procurei os casais mais felizes que conheci na idéia de repetir tudo que um dia já havia dado certo, procurei os casais sem sucesso para também evitar os erros.

Revi todos os passos dos meus antigos romances, para com você não inventar uma nova balança desregulada. Queria que nos amássemos na mesma intensidade, ainda que o amor não pudesse ser medido.

E eu te coloquei numa realidade muito distante, como uma princesa de uns de meus contos de fadas, só que eu não percebia que era em um castelo intransponível que eu nunca conseguiria acessar.

Você não sabe e talvez nunca saberia, que eu já era grato a você mesmo que nunca gostasse de mim. Cada vez me interessava menos por romances como se pessoas fossem demasiadamente cansativas. Logo eu que sempre fui movido pelo amor, fiquei tanto tempo sem gostar de ninguém. Eu não estava esperando exatamente por você, esperava sempre por uma figura sem rosto, como sentir fome de uma comida que nunca comi.

E que me perdoem os corações partidos, mas eu sentia falta daquelas noites em que chorei por alguém. É que eu simplesmente não aguentava mais caminhar vazio.

E fui seguindo todos os passos criados por mim, como um ritual que me guiaria até você. Forcei ser engraçado quando percebi que você gostava de rir, ainda que eu não soubesse contar piadas. Tentei fazer parte da sua vida para que sentisse falta quando eu me despedisse e principalmente, escondi de todas as maneiras o quanto eu gostava de você.

Eu me entregava aos poucos com minhas brincadeiras de beijos roubados, mas nunca nos beijamos. Eu tentava entender e encontrar nas pessoas em que você beijava uma justificativa para sua boca evitar tanto a minha, mas de fato eu não encontrei.

E quebrei a principal regra que criei. Confessei o quanto gostava de você e quanto mais dizia, menos te teria. E talvez por te querer muito foi que realmente nunca te tive.

Hoje percebi o quão ridículo era minha pergunta. Como fazer com que você me amasse?

Eu demorei entender, mas entendi que você nunca falaria de mim como falava do salva-vidas. Aceitei como verdade absoluta. Não me amava, e nunca me amaria. Eu nunca seria o advogado inventado que enfeitava suas histórias.

Desistir? Ainda que o corpo pedisse para ficar mais. Desistir? Ainda que meus conceitos sobre desistir não fossem nobres.

Estava cansado de bater na porta até esfolar os meus dedos e você nem pensar na hipótese de descer as escadas para abrir.

O triste não é ter perder, porque eu nunca de verdade te tive. O triste é perder tudo que senti quando te vi.

E logo hoje que gostaria de te enviar uma carta dizendo que te amava, assino essa dizendo que decidi te esquecer, ainda que te esquecer seja voltar a ser o vazio que eu era. (Vinícius D'Ávila)