Sunday, July 10, 2011

Carta a C. C.



Querida amiga C.C.,
Claro que se eu pudesse ao invés de mandar essa carta ir ai e dizer tudo isso pessoalmente eu iria, mas a geografia não é mais favorável a nossa amizade. Nunca fomos de viver diariamente confidencializando nossos momentos, mas em todos os drásticos momentos que tive (e todos os felizes também), você estava lá.
Sabe o que eu reparei? Que o amor sempre nos uniu. Não só pelo que sentimos um pelo outro, mas pelos amores (dos para sempre até os de só um dia) que enfrentamos juntos como se fossemos uma pessoa só de dois corações.
Por mais que ambos fossemos imaturos no amor e você também não soubesse o que fazer diante do meu pranto incontrolável por ter sido abandonado, você estava lá para não me deixar chorar sozinho, me roubando pra as suas quintas-feiras felizes. E é quase como devolver um coração emprestado, preciso juntar seus cacos com o mesmo cuidado que um dia você reconstruiu o meu que já era pó. O trágico é que eu não sei como fazer isso. Pois se eu pudesse chorar por você é claro que eu choraria, mas já que não posso, choro contigo.
É assustador pensar que já faz um ano que fui embora e que já fez mais de seis o tempo em que fazíamos aulas de matemática extra pra diminuir a distancia de nossa realidade até nossos sonhos. Eu já não tenho a mesma necessidade de aprender matemática, mas eu sinto que preciso ainda mais de você.
Estou mandando essa carta para dizer que acompanhei cada pedaço seu que foi se soltando e eu apesar de carregar minha infinita bagagem de decepções, não consigo te oferecer nada mais do que palavras confusas e desnecessárias.
Olha, por aqui o inverno é mais longo, as noites se iniciam mais cedo, as quintas-feiras não são tão felizes e talvez tenham outras inúmeras coisas que me fazem falta, mas esse tempo foi suficiente para eu perceber que perdi a maioria das coisas que eu achava que não viveria sem. E sabe o que é interessante? Eu sobrevivi.
E essa era pra ser uma carta falando sobre fases de luto, talvez uma tentativa inútil de te ensinar a superar perdas, mas acabou se tornando uma carta de amor, pois apesar das pessoas estarem banalizando o real sentido do amor nos dias de hoje você tem me mostrado seu real sentido da melhor forma, amando.
Pois sobre perdas só sei dizer que tão importante quanto saber escolher um bom livro pra ler é fecha-lo quando termina-lo e saber a hora devolve-lo a estante. (Vinícius D'Ávila)