Thursday, July 26, 2012

A arte de viver sozinho




"Não se preocupe, não tenha pressa. O que é seu, encontrará um caminho para chegar até você. Deus não demora. Ele capricha." (Caio F. Abreu)

12 de junho seria um dia comum, se não fosse pelas campanhas publicitárias das marcas de perfume. Se perfumes não lembrassem sua ex-namorada. Se seu final com ela não tivesse sido trágico. No centro da cidade havia uma tela que alternava entre hora e temperatura. Lá dizia: 22ºC. Mas ele sentia mais frio que isso. Devia estar quebrado.
Era para ele estar se sentindo bem, se quando chegasse em casa encontrasse os seus amigos de republica ao invés de solitários bilhetes sobre a mesa, com cada qual avisando que havia saído com sua namorada. Você só percebe que está realmente sozinho quando lançam no cinema a continuação de sua comédia romântica favorita e você não tem quem convidar para assistir com você. Porque é 12 de junho e todos os seus melhores amigos têm um relacionamento sério e apesar de sua presença em meio a tantos casais nunca ter sido motivo de incomodo, no dia 12 a situação é diferente.
Não importa! Você pode ser alguém bem resolvido, se sentir bem consigo mesmo, gostar da possibilidade de cada dia conhecer um novo alguém, mas no dia 12 você vai desejar aquela pessoa que passou ou aquela que ainda não chegou. Mas irá desejar. Ficava brincando que se a população mundial fosse impar, era ele que iria sobrar. Porque eu achava que só Adele me entendia, mas até ela está lá tendo filhos, traindo todo nosso sofrimento compartilhado.

Você sai de casa numa tentativa de não se sentir só. Sabendo que tem lasanha congelada, macarrão instantâneo no armário e um bife que sobrou do almoço, mas você prefere sair para jantar. Por via das dúvidas resolve se arrumar. Sempre acreditou que conheceria o amor da sua vida na fila de um supermercado e não queria estar de abada quando isso acontecesse.
O seu restaurante favorito resolveu inovar na decoração. Velas acesas enfeitam os centros das mesas e você desiste de comer ali, porque não queria ser cruel a ponto de sacrificar a luz de uma vela que havia sido acendida para dois. Na porta do shopping,as portas automáticas parecem ter uma nova funcionalidade e só abrem para casais. Não que elas se fechem para solteiros, mas não havia nenhum, nem entrando nem saindo para provar que elas se abririam para eles. Uma jovem senhora chega sozinha a porta. Ele para e observa sorrindo ao perceber que não é o único corajoso solitário a sair sozinho naquela selva a dois. Sua alegria dura pouco ao perceber que ela se vira para reclamar com o senhor que chegou pouco depois. Provavelmente era o marido que havia demorado para estacionar. Realmente, um shopping não seria um bom lugar.
Anda mais um pouco e para em frente uma vitrine em que corações parecem flutuar para chamar a atenção de apaixonados dispostos a gastar. Quem o visse de longe pensaria que se tratava de alguém indeciso com o que comprar, mas na verdade ele ficou um tempo imaginando o que poderia ganhar naquele dia se estivesse com alguém. Passou uma jovem do lado dele e antes de entrar na loja sorriu e disse boa noite. Ficou perguntando a si, se não deveria ir atrás e foi alimentando interiormente já uma história que poderia viver com ela. Balancou a cabeça negativamente e repetiu para sua carência: “ela só estava sendo simpática”.
Havia mais vermelho nas ruas e mais pessoas de mãos dadas. E esse clima meloso fez com que quisesse ser simples. Resolveu ir comer o seu cachorro-quente favorito. Eles faziam ótimos molhos e a vendedora sempre tinha algo engraçado para contar. Lembrava uma prima mais velha que morava longe e conversar com ela até que matava a saudade.
A gente passa janeiro fazendo planos de viagem juntos para nossas férias do meio do ano e se vê indo comer cachorro quente sozinho. As vezes a realidade surpreende.Caminhou ainda uns 5 minutos mais rápido pois a fome havia aumentado, mas de repente parou e voltou para trás.
O cachorro quente naquele dia não estava aberto. Ela também deveria ter alguém. (Vinícius D'Ávila)